RESUMO
O Omega Art Déco Ref. OT 787 não é apenas um instrumento de medição do tempo; é um artefato cultural que cristaliza o espírito dos 'Années Folles'. Lançado no epicentro do movimento Art Déco, este modelo representa o auge da transição da Omega de fabricante de movimentos utilitários para uma 'Maison' de alta joalheria e design. Com sua caixa quadrada de dimensões perfeitamente equilibradas e acabamento em ouro cinzelado, o OT 787 foi concebido para a elite social e intelectual da década de 1920, uma clientela que valorizava a ruptura com as curvas orgânicas do Art Nouveau em favor da geometria rigorosa e da ornamentação estilizada. A sua importância histórica é monumental: foi com peças deste calibre que a Omega garantiu o Grand Prize na Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes de 1925, em Paris. Este relógio transcende a horologia mecânica para se tornar uma peça de museu vestível, simbolizando o momento exato em que o relógio de pulso deixou de ser uma adaptação militar para se tornar o acessório definitivo de elegância masculina e feminina.
HISTÓRIA
A história do Omega Art Déco Ref. OT 787 é indissociável do ano de 1925, um marco temporal que definiu a estética do século XX. Enquanto o mundo se recuperava da Grande Guerra, a relojoaria passava por sua própria revolução: a migração definitiva do bolso para o pulso. A Omega, já estabelecida como uma potência industrial, buscou afirmar sua supremacia estética na Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes em Paris. Foi neste evento que o termo 'Art Déco' foi cunhado, e foi aqui que a Omega apresentou o OT 787.
Ao contrário dos relógios redondos tradicionais, que eram frequentemente relógios de bolso adaptados, o OT 787 foi desenhado desde o início como um objeto de pulso. A escolha da caixa quadrada de 25.5mm foi audaciosa. A geometria era a nova linguagem do luxo, inspirada pelo cubismo e pela arquitetura moderna. O diferencial técnico e artístico deste modelo reside no seu acabamento em 'ouro cinzelado'. Esta técnica de ourivesaria envolvia a gravação manual da caixa com padrões florais estilizados ou geométricos complexos, transformando a caixa de ouro numa moldura de quadro preciosa.
Tecnicamente, o desafio era alojar um movimento preciso, robusto e confiável numa caixa quadrada, onde o espaço nos cantos é frequentemente desperdiçado ou difícil de vedar contra poeira. A Omega utilizou seus calibres de forma (ou calibres redondos pequenos como o 23.5) que eram famosos pela durabilidade, garantindo que a beleza externa não mascarasse uma mecânica inferior.
O legado do OT 787 é profundo. Ele estabeleceu a Omega não apenas como uma manufatura de precisão cronométrica, mas como uma vencedora de prêmios de design. O Grand Prize obtido em 1925 contra dezenas de concorrentes suíços e franceses validou a estratégia da marca de fundir a arte com a indústria. Nas décadas seguintes, o DNA deste modelo influenciaria as linhas 'Museum Collection' e as reedições de peças históricas, servindo como o arquétipo do 'Dress Watch' formal. Para o colecionador moderno, encontrar um OT 787 com o cinzelado intacto é extremamente raro, pois décadas de polimento muitas vezes apagam a textura original que define sua alma.
CURIOSIDADES
O Grand Prize: A Omega foi uma das poucas manufaturas a receber o Diploma de Honra e o Grand Prize na Exposição de 1925, competindo diretamente com marcas de alta joalheria parisiense.
Lugs de Fio: As alças deste modelo são fixas (soldadas), exigindo pulseiras especiais que são coladas ou grampeadas ao redor do pino, uma característica que desapareceria com a invenção das barras de mola (spring bars) pouco tempo depois.
Assinatura Dupla: Algumas variações extremamente raras deste modelo foram vendidas por joalheiros de luxo como a Tiffany & Co. ou a Cartier, apresentando mostradores com assinatura dupla.
O Código OT: No sistema de referências vintage da Omega, o prefixo 'OT' indicava especificamente caixas em Ouro, diferenciando-se de 'CK' (Aço) ou 'OJ' (Outros metais/Gold filled).
Sobrevivência Rara: Devido à falta de proteção contra água (snap-back case) e ao uso de vidro mineral frágil, estima-se que menos de 10% da produção original tenha sobrevivido em estado de coleção com o mostrador original sem restauração.
Influência Arquitetônica: Os padrões cinzelados na caixa muitas vezes imitavam os frisos de edifícios famosos da época, como o Théâtre des Champs-Élysées.