RESUMO
O Patek Philippe Single Pusher Chronograph de 1924 representa um divisor de águas na história da alta relojoaria, situando-se no limiar entre a era dos relógios de bolso e a dominação dos relógios de pulso. Este modelo específico, distinguido pela sua caixa estilo 'Officer' e pela raríssima configuração de registradores verticais, não foi concebido como um instrumento robusto de aviação ou mergulho, mas sim como uma ferramenta de cronometragem científica para a elite intelectual e oficiais militares de alta patente do período entreguerras. Sua filosofia de design reflete a transição da marca para a miniaturização de complicações complexas, mantendo a elegância aristocrática. No mercado atual, esta peça transcende a categoria de 'relógio vintage' para se tornar um artefato museológico de valor inestimável. Ele estabeleceu o DNA visual e mecânico que guiaria a Patek Philippe pelas décadas seguintes, servindo como o patriarca silencioso de lendas posteriores como a Referência 130 e 1518. A escolha do monopulsante (monopusher) reflete uma pureza mecânica e uma estética limpa que é, até hoje, venerada pelos colecionadores mais exigentes do mundo.
HISTÓRIA
A história do Cronógrafo Monopulsante de 1924 da Patek Philippe é, essencialmente, a história do nascimento do cronógrafo de pulso moderno de luxo. No início da década de 1920, o mundo ainda se recuperava da Primeira Guerra Mundial, um conflito que acelerou a migração dos relógios do bolso para o pulso. Enquanto a Patek Philippe já havia produzido um cronógrafo de pulso isolado e único anteriormente, foi por volta de 1923 e 1924 que a produção começou a assumir uma forma mais deliberada, embora ainda extremamente limitada e sem os números de referência padronizados que veríamos a partir de 1932 (iniciando com a Ref. 96).
O modelo de 1924 destaca-se crucialmente pelo seu contexto técnico. Diferente do famoso cronógrafo 'Rattrapante' (Split-Seconds) vendido em 1923, este modelo de 1924 focava na pureza da função de cronometragem simples através de um único botão (monopulsante). O uso da caixa estilo 'Officer' (Oficial) é uma homenagem direta aos relógios de trincheira, caracterizada por suas alças soldadas e, frequentemente, um fundo de caixa com dobradiça, permitindo ao proprietário observar o movimento requintado sem expô-lo totalmente aos elementos.
A configuração de 'registradores verticais' mencionada é um detalhe de extrema importância histórica. Naquela época, a Patek Philippe utilizava ébauches da Victorin Piguet. Muitos movimentos de cronógrafo eram originalmente desenhados para relógios de bolso (Lépine, com a coroa às 12h e registradores alinhados verticalmente) ou 'Savonnette' (Hunter, com a coroa às 3h e registradores horizontais). A presença de registradores verticais num relógio de pulso de 1924 sugere uma adaptação engenhosa de um calibre Lépine rotacionado ou uma construção arquitetônica específica onde os sub-mostradores (segundos contínuos e contador de minutos) foram posicionados às 12 e às 6 horas, ou alinhados centralmente. Esta disposição é significativamente mais rara que o layout 'bi-compax' horizontal (3 e 9) que se tornaria o padrão da indústria posteriormente.
Este modelo pavimentou o caminho para a introdução comercial da Referência 130 em 1934. No entanto, o exemplar de 1924 permanece superior em raridade. Ele representa o momento em que a Patek Philippe decidiu que o cronógrafo não seria apenas uma ferramenta científica, mas uma obra de arte vestível. A evolução deste design culminou nos cronógrafos mais desejados do mundo, mas foi aqui, com este monopulsante de caixa de oficial, que a lenda começou a ser escrita em ouro e esmalte.
CURIOSIDADES
O termo 'Monopulsante' refere-se à operação sequencial (Iniciar-Parar-Zerar) realizada por um único botão, uma complexidade mecânica que exige precisão extrema na roda de colunas.
Exemplares desta era (1923-1924) são 'Pré-Referência', o que significa que não possuem um número de modelo catalogado como os relógios pós-1932, sendo identificados apenas pelos números de série do movimento e da caixa.
A caixa 'Officer' com fundo de dobradiça (hinged dust cover) é uma das características mais cobiçadas por colecionadores, pois adiciona um peso e uma tátilidade histórica inigualável à peça.
Devido à produção artesanal da época, os mostradores eram frequentemente feitos de Esmalte Grand Feu, o que significa que, ao contrário dos mostradores de metal pintados que oxidam, estes permanecem imaculadamente brancos e brilhantes mesmo após 100 anos.
Um dos primeiros cronógrafos de pulso Patek Philippe (o 'Split-Seconds' de 1923) foi leiloado por quase 3 milhões de dólares, elevando a cotação de qualquer cronógrafo da marca produzido na década de 1920, incluindo este Monopulsante de 1924, a patamares estratosféricos.
A configuração de registradores verticais é uma anomalia deliciosa para os historiadores, muitas vezes indicando o uso de calibres de transição adaptados de pequenos relógios de pingente femininos de alta complexidade.