RESUMO
Em 1969, o mundo da horologia testemunhou uma corrida armamentista silenciosa, mas feroz, para desenvolver o primeiro cronógrafo automático do mundo. Enquanto a Heuer e a Seiko faziam os seus movimentos, a holding Mondia-Zenith-Movado (MZM) alcançou a imortalidade com o lendário calibre 'El Primero'. Embora a Zenith leve frequentemente os louros principais, a interpretação da Movado, materializada no modelo Datron HS360, representa a união perfeita entre a mecânica de vanguarda e um design estético superior. O Movado Datron HS360 não é apenas um relógio; é um monumento à era de ouro da relojoaria mecânica. Posicionado no mercado vintage como uma alternativa sofisticada e 'in-the-know' aos Zenith A386, o Datron foi desenhado para o cavalheiro desportista, combinando a robustez necessária para a aviação e o automobilismo com uma elegância de caixa 'tonneau' que transitava perfeitamente para ambientes formais. A sua filosofia de design priorizou a legibilidade e o equilíbrio simétrico, distinguindo-se dos seus primos da Zenith pela colocação única da janela de data. Hoje, é reverenciado por colecionadores astutos como o 'El Primero furtivo', oferecendo a mesma pulsação histórica de 36.000 vph numa embalagem indiscutivelmente mais ergonómica e distinta.
HISTÓRIA
A história do Movado 'El Primero', mais corretamente identificado como a linha Datron HS360, é inseparável de um dos momentos mais cruciais da história da relojoaria: a corrida de 1969. No final da década de 1960, a indústria estava obcecada com o 'Santo Graal' da engenharia: criar um cronógrafo de corda automática. A Movado, tendo unido forças com a Zenith sob o guarda-chuva da holding MZM, desempenhou um papel vital, embora muitas vezes subestimado, neste feito.
Enquanto o consórcio concorrente (Heuer, Breitling, Hamilton-Buren e Dubois-Dépraz) trabalhava no Calibre 11 modular e a Seiko desenvolvia o 6139, a equipa Zenith-Movado focou-se num movimento integrado de alta frequência. O resultado foi o calibre 3019 PHC. A designação 'HS360' no mostrador do Movado refere-se a 'High Speed 360 degrees' (rotor de 360 graus) e à frequência alucinante de 36.000 alternâncias por hora, permitindo uma precisão de 1/10 de segundo.
O Datron HS360 foi a aplicação principal deste motor lendário sob a marca Movado. Diferente da Zenith, que optou por caixas angulares e a data posicionada às 4:30, a Movado escolheu uma abordagem mais clássica e simétrica. O Datron apresentava a janela de data às 12 horas — uma façanha técnica que exigia um disco de data diferente e demonstrava a atenção da marca aos detalhes estéticos. A caixa em formato de 'almofada' (cushion case) era tipicamente anos 70, mas com uma fluidez que envelheceu graciosamente.
Ao longo dos primeiros anos da década de 1970, o modelo viu várias iterações, incluindo versões de mergulho (Super Sub-Sea) e pilotos, antes de a Crise do Quartzo dizimar a produção de movimentos mecânicos. Durante décadas, estes relógios foram negligenciados, vistos apenas como 'primos pobres' dos Zenith. No entanto, no século XXI, o reconhecimento da sua raridade, a elegância do mostrador 'Panda' e a presença do mesmo motor histórico elevaram o Movado Datron HS360 ao estatuto de ícone cult, provando que a contribuição da Movado para o projeto El Primero foi tanto estilística quanto essencial.
CURIOSIDADES
O posicionamento da data às 12 horas é exclusivo da versão Movado do calibre El Primero; os modelos Zenith da mesma época exibiam a data invariavelmente às 4:30.
Existem raríssimos exemplares do Datron HS360 com mostradores assinados pela 'Tiffany & Co.', que hoje comandam prémios astronómicos em leilões.
O termo 'Sub-Sea' gravado no fundo da caixa não indica necessariamente um relógio de mergulho profundo, mas sim a tecnologia de impermeabilização patenteada pela Movado na época.
A bracelete original de aço destes modelos foi frequentemente fabricada pela lendária casa Gay Frères, a mesma que produzia braceletes para a Patek Philippe e Rolex na época.
Embora o movimento seja tecnicamente um Zenith El Primero, as pontes do movimento nos modelos Movado eram frequentemente assinadas como 'Movado Factories' em vez de Zenith.
O Datron foi produzido em quantidades significativamente menores do que os seus homólogos da Zenith, tornando-o estatisticamente mais raro no mercado vintage atual.
Jerry Seinfeld, um conhecido colecionador de Breitling e Porsche, foi visto a usar um Movado Datron vintage, ajudando a cimentar o estatuto 'cool' do modelo.