RESUMO
O Movado Polyplan, lançado em 1912, não é meramente um relógio de época; é um dos monumentos mais significativos da engenhosidade mecânica na transição do relógio de bolso para o de pulso. Numa era em que a ergonomia era um conceito incipiente, a Movado desafiou a geometria plana tradicional da horologia para criar uma peça que abraçasse organicamente o pulso humano. Diferente de seus contemporâneos e sucessores que apenas curvavam a caixa mantendo o mecanismo plano, o Polyplan foi construído em torno de uma arquitetura de movimento radicalmente nova: o Calibre 400, projetado em três planos distintos e angulados. Este relógio foi posicionado no ápice do luxo e da inovação técnica, visando uma elite sofisticada que valorizava tanto a precisão cronométrica quanto a estética Art Nouveau e emergente Art Deco. Hoje, é considerado um 'Santo Graal' para colecionadores de peças pré-guerra, representando o triunfo da forma seguindo a função de maneira literal. A sua relevância reside na audácia de redesenhar a própria infraestrutura do tempo mecânico para servir à anatomia humana, estabelecendo um padrão de elegância alongada que marcas como a Gruen tentariam emular décadas depois, mas raramente com a mesma pureza de engenharia.
HISTÓRIA
A gênese do Movado Polyplan remonta a um período de intensa experimentação horológica. No início da década de 1910, o relógio de pulso ainda lutava para superar sua reputação de adorno feminino ou ferramenta estritamente militar improvisada. A maioria dos fabricantes da época solucionava o problema de colocar um relógio no pulso soldando asas a caixas de relógios de bolso pequenos, resultando em peças volumosas e desconfortáveis que se equilibravam precariamente sobre o braço. A Movado, sob a liderança visionária da família Ditesheim, buscou uma integração anatômica perfeita.
Em 1912, a empresa registrou a patente suíça número 60360 para o design do 'Polyplan'. O nome, derivado de 'polyp' (muitos) e 'plan' (plano), descrevia perfeitamente a inovação técnica. Em vez de forçar um movimento plano circular dentro de uma caixa curva — o que exigiria uma caixa muito espessa no centro para acomodar as bordas do movimento — a Movado decidiu curvar o próprio movimento. O lendário Calibre 400 foi construído em três seções: uma placa central plana contendo as engrenagens principais, e duas placas anguladas em cerca de 25 graus nas extremidades. A placa superior (às 12 horas) abrigava a roda de balanço e o escape, enquanto a placa inferior (às 6 horas) continha o tambor de corda.
Esta arquitetura engenhosa permitiu que a caixa do relógio fosse dramaticamente longa e elegantemente fina, acompanhando a curva natural do osso do rádio do pulso. O Polyplan foi produzido por um período extremamente curto, aproximadamente de 1912 a 1917, interrompido pelas dificuldades logísticas e econômicas da Primeira Guerra Mundial. Estima-se que apenas cerca de 1.500 movimentos foram fabricados, tornando-o excepcionalmente raro. Durante sua breve produção, o modelo viu variações sutis nos mostradores, transitando da estética ornamentada do final da era vitoriana para os números geométricos explosivos que definiriam o Art Deco.
Historicamente, o Polyplan é frequentemente comparado ao Gruen Curvex, lançado na década de 1930. No entanto, o Polyplan é tecnicamente superior e historicamente anterior. Enquanto o Curvex utilizava um movimento plano escalonado para simular curvatura, o Polyplan possuía uma arquitetura genuinamente angulada. O impacto do Polyplan na marca Movado foi imenso, cimentando sua reputação inicial como uma casa de inovação técnica antes de sua reinvenção modernista com o 'Museum Watch' décadas mais tarde. Para o colecionador erudito, o Polyplan não é apenas um relógio, mas o elo perdido evolucionário que provou que o relógio de pulso poderia ser um objeto de design independente, e não apenas um relógio de bolso adaptado.
CURIOSIDADES
O movimento Calibre 400 é tão complexo que a roda de balanço está situada em um plano diferente do restante do trem de engrenagens, o que torna a manutenção um pesadelo para relojoeiros inexperientes.
Devido à sua caixa extremamente alongada e curva, o relógio recebeu o apelido carinhoso de 'Banana' entre alguns círculos de colecionadores europeus antigos.
Ao contrário do famoso Gruen Curvex, que alcançou produção em massa, o Polyplan foi um produto de luxo exclusivo; estima-se que menos de 1.500 unidades foram produzidas no total.
Um exemplar raro em ouro 18k em condições imaculadas pode alcançar valores superiores a 15.000 ou 20.000 dólares em leilões de prestígio como Phillips ou Christie's.
A coroa de corda no Polyplan está posicionada às 12 horas em alguns protótipos raríssimos, mas a versão de produção padrão a mantém às 3 horas, o que exigiu um sistema de tige (haste) articulado ou angular complexo.
O Polyplan detém a patente CH 60360, que é frequentemente citada em literatura horológica como a primeira patente para um movimento de relógio de pulso desenhado especificamente para contornar o pulso.
A Movado lançou uma reedição moderna 'Heritage' do Polyplan nos anos 2000, mas esta utilizava um movimento de quartzo suíço ETA, o que gerou controvérsia entre os puristas que valorizavam a mecânica original de três planos.