RESUMO
Lançado no auge cultural da década de 1960, o Tissot PR 516 não foi apenas mais um relógio de pulso; representou uma mudança de paradigma na filosofia da Tissot, transitando da relojoaria clássica e formal para o dinamismo do estilo de vida desportivo. Posicionado como o derradeiro 'relógio ferramenta' para o cavalheiro motorizado, o PR 516 (onde PR significa 'Particularly Resistant') foi concebido para suportar as vibrações intensas dos volantes desportivos e os choques da vida ativa, graças a um sistema de suspensão do movimento revolucionário para a época. O seu público-alvo abrangia desde pilotos de rali amadores a profissionais urbanos que desejavam uma peça de engenharia robusta sem sacrificar a elegância. O design, da autoria do lendário Lucien Gurtner, capturou o zeitgeist da era das corridas, integrando-se perfeitamente no mundo das luvas de condução e dos tabliers de madeira. Horologicamente, o PR 516 é significativo por popularizar o conceito de resistência ao choque através de engenharia de caixa e montagem flexível, estabelecendo um padrão de durabilidade que influenciaria as coleções da marca suíça por mais de meio século. É uma peça que simboliza a democratização do relógio desportivo de aço inoxidável de alta qualidade.
HISTÓRIA
A história do Tissot PR 516 é, na sua essência, a história da adaptação da relojoaria suíça à nova realidade cinética dos anos 60. Em 1965, sob a direção de Edouard-Louis Tissot, a marca procurava uma resposta técnica para os problemas enfrentados pelos relógios convencionais quando submetidos a atividades vigorosas. O resultado foi a série PR 516. O nome não era apenas marketing; 'Particularly Resistant' referia-se a uma inovação técnica genuína: o movimento não estava simplesmente fixado na caixa, mas sim 'suspenso' lateral e verticalmente por anéis sintéticos flexíveis que atuavam como amortecedores, isolando o calibre de impactos severos.
O design foi confiado a Lucien Gurtner, que criou uma silhueta robusta, mas contida, com asas curtas e angulares que abraçavam o pulso. O modelo de 1965, equipado com o fiável Calibre 781-1 de corda manual, foi o progenitor de uma dinastia. Enquanto os primeiros modelos vinham frequentemente em braceletes de couro perfurado 'Rally', a verdadeira revolução estética ocorreu pouco depois com a introdução da bracelete de aço inoxidável desenhada por Gurtner, que apresentava grandes perfurações circulares inspiradas nos raios dos volantes dos carros de corrida desportivos da época. Esta bracelete tornou-se tão icónica quanto o próprio relógio, sendo frequentemente copiada mas nunca igualada em conforto e identidade visual.
Ao longo das décadas de 1960 e 1970, o PR 516 evoluiu. A linha expandiu-se para incluir o famoso PR 516 GL (Grand Luxe), que introduziu mostradores mais complexos com índices 'flutuantes' integrados no anel de tensão do cristal, criando um efeito tridimensional espetacular. Surgiram também versões cronógrafo equipadas com movimentos Lemania de alto nível (como o calibre 871 e 873, primos do movimento do Omega Speedmaster). O modelo tornou-se sinónimo de desportos motorizados, aparecendo nos pulsos de pilotos de rali sul-americanos e europeus, solidificando a reputação da Tissot como uma marca de precisão desportiva.
O impacto do PR 516 na indústria foi profundo; provou que um relógio poderia ser comercializado com base na sua indestrutibilidade técnica e ainda assim manter um apelo de moda. Mesmo durante a crise do quartzo, a linhagem PR manteve-se relevante, transformando-se na atual linha PRS, mas é o modelo original de 1965 que permanece como o 'Santo Graal' para os puristas da marca, representando o momento exato em que a Tissot abraçou a velocidade.
CURIOSIDADES
A famosa bracelete de aço com furos (inspirada nos volantes de carros de corrida) foi desenhada por Lucien Gurtner e foi a primeira bracelete de relógio 'integrada' registada no mundo com este design específico.
O piloto de rali peruano Henry Bradley, um herói nacional, era um devoto famoso do Tissot PR 516, tendo até pintado 'Tissot' no seu carro de corrida, o que ajudou a cimentar a fama do relógio na América do Sul.
Embora 'PR' signifique oficialmente 'Particularly Resistant', em campanhas de marketing posteriores e em certos mercados, a sigla foi ocasionalmente rebrandida como 'Precision and Robustness' (Precisão e Robustez).
A campanha publicitária do PR 516 é lendária na história do marketing, apresentando repetidamente uma mão com luva de condução de couro segurando um volante desportivo, uma imagem que definiu a categoria 'Racing Watch' por décadas.
Existe um mito comum de que o número '516' se refere a uma data ou código de motor, mas na nomenclatura da Tissot da época, o '5' indicava a série de resistência à água/materiais e o '16' era o identificador sequencial do modelo na coleção.
O calibre 781-1 é reverenciado pelos relojoeiros pela sua facilidade de serviço e durabilidade, sendo considerado um 'trator' da relojoaria suíça vintage.
Roger Moore usou um Tissot PR 516 numa cena do filme 'Live and Let Die' (007), embora o Submariner e o Pulsar recebam toda a glória, solidificando a sua presença na cultura pop dos anos 70.