RESUMO
No panteão da horologia aeronáutica, poucos instrumentos impõem tanto respeito quanto o Breitling AVI Ref. 765, carinhosamente conhecido como 'Co-Pilot'. A iteração de 1962 representa um ponto de inflexão crítico na linhagem deste modelo: o momento exato em que a Breitling transicionou da estética utilitária monocromática (tudo preto) para a configuração de alta legibilidade 'Reverse Panda' (mostrador preto com submostradores prateados). Posicionado não como um mero acessório de luxo, mas como uma ferramenta de sobrevivência para pilotos militares e civis, o AVI 765 foi projetado para operar em conjunto com o Navitimer; enquanto o último realizava cálculos complexos de navegação, o AVI oferecia robustez superior e leitura instantânea de tempos decorridos sob as condições vibratórias de um cockpit. O seu público-alvo original consistia em aviadores que exigiam precisão absoluta e durabilidade, preferindo o seu design de caixa superdimensionada (para a época) e o bisel rotativo de aço. A importância desta referência específica de 1962 transcende a sua funcionalidade; ela estabeleceu o código visual que viria a dominar os cronógrafos desportivos nas décadas seguintes. Para o colecionador moderno, este modelo representa a fusão perfeita entre a elegância da engenharia suíça de meados do século e a estética brutalista da aviação da Guerra Fria, marcando o início da era dourada dos cronógrafos de alto contraste.
HISTÓRIA
A história do Breitling AVI Ref. 765 é uma narrativa de evolução funcional, impulsionada pelas necessidades rigorosas da aviação militar do pós-guerra. Lançado originalmente em 1953, o modelo foi a resposta direta da Breitling às especificações militares francesas que deram origem ao Type 20/21 (produzidos por casas como Breguet e Vixa). Enquanto o Navitimer, com a sua régua de cálculo, se destinava aos 'matemáticos do céu', o AVI 765 (Aviation) foi construído para ser o cavalo de batalha robusto, o 'Co-Piloto' confiável no pulso.
Durante a sua primeira década de existência, o AVI 765 apresentava um mostrador totalmente preto, uma escolha estética sóbria e militar. No entanto, a visibilidade no cockpit, muitas vezes sob condições de iluminação precárias, tornou-se uma preocupação crescente. É aqui que a referência de 1962 assume o seu papel monumental na história da marca. Conforme documentado por historiadores de renome e especialistas como 'Dracha' e Fred Mandelbaum (WatchFred), foi exatamente entre 1962 e 1964 que a Breitling introduziu a alteração radical para o mostrador 'Reverse Panda'. Esta mudança não foi meramente cosmética; os submostradores prateados contrastantes contra o fundo preto permitiam uma leitura significativamente mais rápida e intuitiva dos totalizadores do cronógrafo. O exemplar de 1962 é, portanto, o 'Patient Zero' desta nova linguagem de design.
Tecnicamente, o coração deste relógio é o lendário calibre Venus 178, um movimento de roda de colunas reverenciado pela sua fiabilidade e sensação tátil suave ao acionar os botões. Uma das características mais distintivas do AVI 765 de 1962, herdada dos seus antecessores e mantida nesta transição, é o contador de 15 minutos situado às 3 horas. Diferente dos cronógrafos padrão de 30 minutos, este registrador foi modificado para auxiliar os pilotos nos procedimentos de verificação pré-voo, que duravam exatamente 15 minutos. A inclusão de marcadores luminosos a cada três minutos dentro deste submostrador é um detalhe subtil, mas vital, que separa os verdadeiros relógios-ferramenta dos meros relógios desportivos.
A caixa do modelo de 1962 também merece destaque. Com 41mm de diâmetro (muitas vezes medindo mais devido ao bisel saliente), era consideravelmente maior do que a maioria dos relógios da época, que rondavam os 34-36mm. O bisel rotativo de aço, gravado com uma escala de 12 horas, permitia o rastreamento de um segundo fuso horário, uma funcionalidade essencial para a aviação comercial e militar em expansão.
Esta iteração específica de 1962, com o bisel de aço (antes da transição para os biseis anodizados pretos vistos em modelos posteriores como o usado por Raquel Welch no filme 'Fathom'), é extremamente rara. Ela representa o elo perdido entre a austeridade dos anos 50 e o estilo desportivo exuberante do final dos anos 60. O legado deste modelo é tão profundo que, em 2020, a Breitling escolheu precisamente o design do 765 AVI de 1953 para uma reedição histórica, mas os colecionadores puristas sabem que o modelo de transição de 1962 'Reverse Panda' é onde a verdadeira magia visual do Co-Pilot floresceu pela primeira vez.
CURIOSIDADES
O apelido 'Co-Pilot' foi oficialmente adotado pela Breitling em anúncios de época para distinguir este modelo do Navitimer, posicionando-o como o parceiro robusto de voo.
O contador de minutos do cronógrafo possui entalhes de luminescência a cada 3 minutos, um detalhe projetado especificamente para que os pilotos pudessem cronometrar o tempo de aquecimento dos motores a jato ou verificações de pré-voo no escuro.
Embora o modelo de 1962 seja a gênese do 'Reverse Panda', o AVI 765 ganhou fama pop-cultural eterna em 1967, quando a atriz Raquel Welch usou uma versão posterior (com bisel preto) no filme 'Fathom', levando o relógio a ser apelidado de 'Raquel Welch' por colecionadores.
O número de referência '765' manteve-se constante durante várias iterações, o que torna a identificação pelo número de série e características do mostrador (como a transição de 1962 citada por Dracha) crucial para a avaliação.
Ao contrário de muitos cronógrafos da época que usavam caixas cromadas, o AVI 765 sempre utilizou uma construção sólida em aço inoxidável com fundo roscado, garantindo uma resistência à humidade superior à média para a época.
A versão de 1962 ainda mantinha o bisel inteiramente em aço escovado, uma característica que o distingue visualmente dos modelos 'CP' (Co-Pilot) posteriores que adotaram inserções de alumínio anodizado preto.