RESUMO
O Omega Electroquartz f8192Hz, referência 196.0005, não é apenas um relógio; é um monumento arquitetônico e tecnológico que encapsula o espírito audacioso do início dos anos 1970. Lançado no epicentro do que viria a ser conhecido como a 'Crise do Quartzo', este modelo representa a resposta definitiva da alta relojoaria suíça à inovação japonesa. Posicionado no ápice absoluto do catálogo da Omega em sua época, o Electroquartz era um símbolo de status e vanguarda científica, custando significativamente mais do que os cronógrafos mecânicos icônicos da marca ou até mesmo relógios de ouro maciço concorrentes.
Com seu design brutalista e assimbétrico, apelidado carinhosamente de "Pupitre" (escrivaninha) devido à sua caixa elevada e angulada, ele foi projetado para um público que valorizava a precisão futurista acima da tradição conservadora. O relógio não foi destinado ao mergulhador ou ao piloto no sentido utilitário clássico, mas sim ao homem moderno, ao tecnocrata e ao visionário que desejava ostentar a nova era da eletrônica no pulso. Hoje, o Electroquartz é reverenciado não apenas pela sua raridade, mas como uma peça de arte industrial que marca o momento exato em que a relojoaria mecânica secular deu as mãos à era digital, resultando em uma estética inconfundível que define o design da Era Espacial.
HISTÓRIA
A história do Omega Electroquartz, especificamente a referência 196.0005, é intrinsecamente a história da sobrevivência e adaptação da indústria relojoeira suíça. No início da década de 1960, rumores de que empresas americanas e japonesas estavam desenvolvendo relógios de pulso eletrônicos de alta precisão enviaram ondas de choque através dos vales do Jura. Em resposta, um consórcio de 20 marcas suíças de elite — incluindo Omega, Rolex, Patek Philippe, IWC e Piaget — uniu forças para formar o Centre Electronique Horloger (CEH) em Neuchâtel. O objetivo era claro: criar o movimento de quartzo mais preciso e refinado do mundo.
O resultado desse esforço hercúleo foi o lendário calibre Beta 21, finalizado em 1969 e apresentado na Feira de Basel de 1970. Enquanto a Seiko lançou o Astron meses antes, reivindicando o título de primeiro relógio de quartzo do mundo, o Beta 21 foi o primeiro quartzo suíço e, tecnicamente, uma besta diferente. Onde os movimentos de quartzo modernos usam um motor de passo simples, o Beta 21 (nomeado Calibre 1300 pela Omega) utilizava um cristal de quartzo vibrando a 8.192 Hz para controlar um motor vibratório, resultando em um ponteiro de segundos que deslizava suavemente, semelhante aos relógios de diapasão Accutron, mas com a precisão superior do quartzo.
A Omega, sempre na vanguarda do design, não se contentou em apenas colocar esse movimento revolucionário em uma caixa redonda tradicional. O tamanho físico do movimento Beta 21 era considerável e retangular, o que obrigou os designers a repensar a ergonomia. A referência 196.0005 nasceu dessa necessidade técnica, transformada em virtude estética. O design 'Pupitre' ou 'Desk' apresenta uma caixa espessa e assimbétrica, onde a parte superior é mais alta que a inferior, criando um ângulo que facilita a leitura do tempo sem a necessidade de girar o pulso — um detalhe ergonômico pensado para o ato de dirigir ou trabalhar em uma mesa de escritório.
Lançado comercialmente por volta de 1970/1971, o Electroquartz representava o pináculo do luxo. A produção do calibre 1300 foi extremamente limitada (estimada em menos de 10.000 unidades para todas as marcas participantes) e complexa. A Omega produziu várias iterações de mostrador, mas a versão azul com o logotipo vermelho do 'f8192Hz' tornou-se a mais icônica. O relógio permaneceu no catálogo por um período curto; a tecnologia avançava a passos largos, e em meados da década de 1970, a Omega já estava introduzindo a série Megaquartz, com frequências muito mais altas e custos de produção menores.
No entanto, o legado do Electroquartz 196.0005 permanece intocado. Ele marca um período de transição 'selvagem' no design, onde as restrições da nova tecnologia ditaram formas audaciosas que nunca mais foram replicadas. Para os colecionadores modernos, possuir um Electroquartz funcional não é apenas ter um relógio; é ser o curador de um experimento científico colaborativo que definiu o futuro da cronometria. É uma peça que prova que, quando confrontada com a obsolescência, a indústria suíça respondeu com inovação radical e design destemido.
CURIOSIDADES
- Preço Astronômico: Em seu lançamento no início dos anos 70, o Electroquartz custava aproximadamente 10 vezes o preço de um Omega Speedmaster Professional 'Moonwatch' e era mais caro que um Rolex Day-Date de ouro maciço.
- Irmãos de Sangue: O movimento Beta 21 dentro deste Omega é mecanicamente idêntico ao encontrado no Rolex 'Texan' Ref. 5100 e no Patek Philippe Cercle d'Or Ref. 3587, tornando o Omega a maneira mais acessível de adquirir este calibre histórico.
- A Coroa na Esquerda: A coroa foi posicionada às 9 horas não apenas por estilo, mas por necessidade ergonômica; devido ao tamanho massivo da caixa, uma coroa às 3 horas perfuraria o dorso da mão do usuário.
- O Zumbido: Diferente dos relógios de quartzo modernos que fazem 'tic-tac', o Electroquartz emite um zumbido audível constante devido à vibração do motor, uma característica sonora única.
- O Apelido: 'Pupitre' é a palavra francesa para 'escrivaninha escolar', referindo-se ao perfil inclinado da caixa que lembra as mesas de estudo antigas.
- Logotipo Aplicado: O logotipo da Omega e o símbolo 'Omega' no mostrador eram aplicados individualmente e possuem uma altura considerável, flutuando sobre o mostrador para enfatizar a profundidade.
- Frequência Única: A frequência de 8.192 Hz é um marco histórico; logo depois, o padrão da indústria se fixaria em 32.768 Hz, tornando a engenharia deste modelo uma cápsula do tempo evolutiva.