RESUMO
A Vacheron Constantin Referência 7398 não é apenas um relógio de vestuário excecional; é um marco histórico fundamental na cronologia da Alta Relojoaria do século XX. Lançado em 1967, num momento em que a indústria suíça enfrentava a iminente revolução de quartzo, este modelo serviu como a plataforma de lançamento para o Calibre 1120 (baseado no projeto JLC 920). O 7398 representa o auge da filosofia de design 'menos é mais', posicionando-se firmemente no segmento de ultra-luxo, destinado a uma clientela aristocrática e a colecionadores puristas que valorizavam a discrição técnica sobre a ostentação. A sua silhueta esbelta desafiou as leis da física da época, oferecendo a conveniência de um movimento automático sem o volume tradicionalmente associado aos rotores de corda. Este relógio não foi desenhado para mergulho ou aviação, mas sim para as salas de reuniões de Genebra e os salões de baile de Paris, deslizando sem esforço sob o punho da camisa mais justa. A importância da Referência 7398 reside no facto de ter introduzido o motor mecânico que viria a alimentar os ícones desportivos de luxo das décadas seguintes, tornando-o o 'pai' espiritual da magreza mecânica moderna.
HISTÓRIA
O ano de 1967 foi um ponto de inflexão na horologia. Enquanto o mundo olhava para o espaço e para a tecnologia eletrónica, três das maiores casas da relojoaria suíça — Vacheron Constantin, Audemars Piguet e Patek Philippe — uniram forças com a Jaeger-LeCoultre para criar o movimento automático mais fino e sofisticado do mundo. O resultado foi o projeto JLC 920, que na Vacheron Constantin foi batizado de Calibre 1120. A Referência 7398 foi o veículo escolhido pela Vacheron para apresentar esta maravilha mecânica ao mundo.
A importância deste lançamento não pode ser subestimada. Antes do 7398, os relógios automáticos eram frequentemente volumosos devido à altura necessária para o rotor oscilante. O Calibre 1120 resolveu isto com uma engenharia brilhante: o rotor de inércia era suportado por um anel de berílio que deslizava sobre quatro rubis minúsculos, garantindo estabilidade e permitindo uma espessura de movimento de apenas 2.45mm — um recorde mundial para um rotor completo que se manteve durante décadas.
Esteticamente, o 7398 refletia o design de transição do final dos anos 60. Afastando-se das caixas redondas estritas dos anos 50, abraçou formas geométricas mais ousadas, muitas vezes apresentando uma caixa em forma de 'almofada' ou quadrado suavizado, antecipando a exuberância dos anos 70. O mostrador era um estudo de minimalismo; a ausência de um ponteiro de segundos e de uma janela de data servia para enfatizar a pureza do tempo e a elegância do perfil fino.
Ao longo das décadas, enquanto a Referência 7398 se tornou uma raridade de museu, o seu coração, o Calibre 1120, continuou a evoluir. Este movimento foi a base para o Vacheron Constantin 222 (o precursor do Overseas) e, curiosamente, foi o único calibre utilizado simultaneamente pelo 'Santo Graal' da relojoaria desportiva: o Royal Oak da AP e o Nautilus da Patek Philippe. No entanto, tudo começou aqui, com o discreto e elegante 7398. Para os colecionadores da Vacheron, possuir um 7398 é possuir o 'Genesis' da era moderna da manufatura, o momento exato em que a marca provou que a complexidade mecânica poderia coexistir com a elegância absoluta.
CURIOSIDADES
O Calibre 1120 (JLC 920) presente no Ref. 7398 tem a distinção única de ser o único movimento utilizado pelas 'Três Grandes' (Patek, AP, Vacheron) mas nunca utilizado pela própria Jaeger-LeCoultre em relógios da sua marca.
Para manter a espessura mínima, o rotor do Calibre 1120 não possui um rolamento de esferas central tradicional, mas desliza sobre carris de berílio-bronze, uma solução técnica exótica e dispendiosa.
Na época do seu lançamento em 1967, o movimento detinha o recorde de 'movimento automático de rotor completo mais fino do mundo' com apenas 2.45mm.
Embora muitas vezes associado ao 'Poinçon de Genève' (Selo de Genebra), as primeiras versões do 1120 exigiram ajustes meticulosos à mão que tornam estes exemplares iniciais obras de arte artesanais.
A referência 7398 é extremamente rara em leilões modernos, sendo muitas vezes ofuscada pelos modelos desportivos posteriores que usam o mesmo movimento, tornando-a uma 'sleeper piece' (peça subvalorizada) para investidores astutos.
O design da caixa do 7398 é um exemplo clássico da 'Form Language' do final dos anos 60, servindo de ponte entre o classicismo de Calatrava e o brutalismo de Genta.
Os colecionadores referem-se frequentemente a esta era da Vacheron como a 'Era Dourada da Magreza', onde a espessura do relógio era o símbolo máximo de status.