RESUMO
O Omega Seamaster 300, especificamente a referência 165.024, representa o zênite do design de relógios de mergulho de meados do século XX e permanece como um dos pilares mais cobiçados da horologia vintage. Lançado em uma era onde o mergulho recreativo e profissional florescia simultaneamente, este modelo marcou um afastamento radical da linguagem de design inicial da Omega de 1957, abraçando uma caixa mais robusta e assimétrica que se tornaria a assinatura visual da marca. Posicionado não apenas como um instrumento de cronometragem, mas como uma ferramenta de sobrevivência vital, o 165.024 foi a escolha predileta da Marinha Real Britânica (Royal Navy), consolidando sua reputação de durabilidade inabalável. Seu apelo transcende o utilitarismo; com as famosas asas torcidas ('twisted lugs') e o mostrador de legibilidade impecável, ele atrai colecionadores que buscam a intersecção perfeita entre a elegância esportiva e a proveniência militar histórica. Diferente dos seus contemporâneos, como o Rolex Submariner, o Seamaster 300 desta época oferece uma estética mais audaciosa e menos onipresente, atraindo o conhecedor que valoriza a distinção técnica e a história de combate real sob as ondas.
HISTÓRIA
A história do Omega Seamaster 300 Ref. 165.024 é a narrativa de uma evolução técnica forçada pelas demandas extremas do mergulho profissional e militar dos anos 1960. Embora a linhagem Seamaster tenha nascido em 1948 e o primeiro '300' (CK 2913) tenha surgido em 1957 como parte da famosa trilogia 'Master' da Omega, foi com o lançamento da segunda geração em meados da década de 60, especificamente por volta de 1964, que o modelo atingiu sua maturidade estética e funcional definitiva.
O 165.024 representou uma ruptura significativa com o passado. A Omega abandonou as asas retas e a caixa mais fina da primeira geração em favor de uma arquitetura mais volumosa e protetora. A introdução da caixa assimétrica, sutilmente mais larga no lado direito, servia como uma proteção integrada para a coroa, dispensando a necessidade de protetores de coroa externos adicionais que eram comuns em marcas concorrentes. As asas, agora esculpidas com a famosa geometria 'lyre' ou 'twisted lugs' (asas torcidas), conferiram ao relógio uma sofisticação visual que o permitia transitar do convés de um navio para uma sala de reuniões, uma característica de design que a Omega mantém até hoje.
Tecnicamente, o relógio era impulsionado pelo lendário Calibre 552. Este movimento automático, conhecido pela sua robustez e facilidade de serviço, é frequentemente citado por relojoeiros como um dos melhores calibres de produção em massa já feitos pela manufatura suíça. A ausência de uma complicação de data (presente na referência irmã 166.024) permitia um mostrador perfeitamente simétrico e limpo, crucial para a leitura instantânea em ambientes de baixa luminosidade.
O aspecto mais marcante desta era, contudo, foi o mostrador e os ponteiros. Para maximizar a legibilidade, a Omega adotou ponteiros largos no estilo 'Sword' (espada) e índices de trítio generosos. O bisel, feito de acrílico (frequentemente referido como baquelite pelos colecionadores) com numerais luminescentes por baixo, oferecia um brilho tridimensional inigualável, embora fosse propenso a rachaduras — uma fragilidade que hoje confere caráter aos exemplares sobreviventes.
A consagração definitiva do 165.024 veio através do seu serviço militar. A Marinha Real Britânica (Royal Navy) selecionou este modelo para suas unidades de mergulho, e as versões emitidas (marcadas com W10 e a 'Broad Arrow' no fundo da caixa) apresentavam barras fixas soldadas nas asas para uso exclusivo com alças de nylon (NATO) e um mostrador com um 'T' circulado, indicando o uso de trítio. Estas variações militares são, hoje, o Santo Graal para colecionadores da referência.
O legado do 165.024 é imenso; ele serviu como a planta baixa para o renascimento moderno da linha Seamaster, incluindo o Seamaster 300 Master Co-Axial moderno e influenciou pesadamente a linha Planet Ocean. Ele não foi apenas um relógio; foi um instrumento que definiu a era de ouro da exploração subaquática.
CURIOSIDADES
O 'Big Triangle': Uma variação rara e altamente desejável do mostrador apresenta um grande triângulo luminescente na posição de 12 horas, substituindo o numeral '12' árabe padrão, visando melhor orientação subaquática.
Serviço Real: Este modelo foi o relógio padrão emitido para o Special Boat Service (SBS) britânico antes de ser substituído pelo Rolex Submariner MilSub na década de 1970.
O Fenômeno WatchCo: Existem no mercado muitos exemplares que parecem novos, conhecidos como 'WatchCo Seamasters'. Estes foram montados na Austrália usando peças de reposição (New Old Stock) genuínas da Omega, mas não são considerados 'vintage' originais de fábrica pelos puristas.
Fragilidade do Bezel: O bisel original de acrílico é notoriamente frágil e propenso a rachaduras e delaminação; um bisel original em perfeito estado pode custar tanto quanto um relógio de luxo moderno.
A Coroa 'Naïad': Alguns dos primeiros modelos de transição utilizavam uma coroa especial que vedava com a pressão da água, embora a 165.024 tenha padronizado a coroa rosqueada mais segura.
Lume Radioativo: O 'T' circulado nos mostradores militares não era apenas estético; era um aviso obrigatório sobre a radioatividade do material luminescente (Trítio).
Protagonista Literário: Embora James Bond seja associado ao Seamaster na era moderna (filmes Brosnan/Craig), o 165.024 é frequentemente a escolha dos puristas que imaginam o relógio real que um comandante da Marinha usaria nos anos 60.