RESUMO
No panteão da horologia suíça, poucas peças encapsulam a transição estética e técnica da década de 1930 tão perfeitamente quanto o Omega CK 650. Situado em um período histórico crucial — entre o declínio dos relógios de bolso e a ascensão dos relógios-instrumento da Segunda Guerra Mundial —, o CK 650 representa a cristalização da elegância utilitária. Este modelo não foi concebido para o mergulho profundo ou para a exploração lunar, mas para o cavalheiro discernidor que, na era do modernismo industrial, valorizava a precisão cronométrica envolta no então revolucionário aço 'Staybrite'. Com suas linhas Bauhaus limpas, asas (lugs) arquitetônicas e mostradores frequentemente inspirados no design 'Sector' ou científico, o CK 650 é um testemunho da filosofia da Omega de que a forma deve seguir a função. Para o colecionador contemporâneo, este relógio não é apenas um acessório vintage; é um artefato de design que prefigura a lendária linha Seamaster e estabelece os padrões de proporção (o famoso 'número áureo' de 32-35mm) que dominariam a relojoaria clássica pelos trinta anos seguintes. É uma peça de 'dress watch' purista, admirada hoje pela sua raridade e pela pureza de seu movimento manual de baixa frequência.
HISTÓRIA
A história do Omega CK 650 é indissociável da revolução metalúrgica que varreu a indústria relojoeira na década de 1930. Até aquele momento, relógios de luxo eram quase exclusivamente fabricados em metais preciosos (ouro ou prata), enquanto metais básicos eram reservados para peças de baixa qualidade. O lançamento da referência CK (código da Omega para 'Staybrite Steel') 650 marcou uma aposta ousada na durabilidade e no brilho inalterável do aço inoxidável como um material de prestígio.
Lançado em um mundo que se recuperava da Grande Depressão e caminhava para a industrialização, o CK 650 foi equipado predominantemente com o lendário calibre 26.5 SOB, um movimento de batalha projetado para ser robusto, fácil de servir e extremamente preciso. Este calibre foi um precursor direto da famosa família 30T2, que cimentaria a reputação da Omega nos testes de observatório de Kew-Teddington. O design do CK 650 evoluiu sutilmente; as primeiras iterações apresentavam asas fixas (barras soldadas) típicas de uso militar ou utilitário, evoluindo posteriormente para barras de mola à medida que a tecnologia se popularizava.
Esteticamente, o modelo é um camaleão da era Art Déco. Enquanto alguns exemplares ostentam mostradores minimalistas com numerais breguet, outros exibem complexos 'Sector Dials' — mostradores segmentados usados para facilitar a leitura científica do tempo, uma característica que hoje comanda preços astronômicos em leilões. O CK 650 não teve a produção em massa das linhas Seamaster ou Constellation que viriam décadas depois, o que o torna comparativamente raro. Ele serviu como o 'banco de ensaio' para a ergonomia que a Omega aplicaria nos seus relógios militares WWW (Waterproof Wrist Watch) entregues ao Ministério da Defesa britânico nos anos 40. Sua descontinuação silenciosa durante a Segunda Guerra Mundial, para dar lugar a referências estritamente militares, selou seu status como um 'capsule time' da elegância civil pré-guerra. O legado do CK 650 reside na sua honestidade: ele definiu o que um relógio de pulso de três ponteiros deveria ser, sem ornamentos supérfluos, estabelecendo a base visual para a coleção 'Heritage' moderna da Omega.
CURIOSIDADES
O termo 'CK' no código de referência refere-se especificamente ao material da caixa: 'C' para Staybrite (Aço Inoxidável) e 'K' para a categoria da caixa.
Este modelo é frequentemente confundido por novatos com o CK 859, uma reedição moderna baseada em designs similares da mesma época.
Devido ao tamanho contido de 32-33mm, muitos colecionadores asiáticos e puristas europeus consideram o CK 650 o tamanho 'perfeito' de um relógio social, apelidando-o de 'The Gentleman's Ratio'.
Exemplares com a assinatura do varejista 'Tiffany & Co.' ou 'Turler' no mostrador são extremamente raros e podem triplicar o valor de mercado.
O aço 'Staybrite' utilizado na época continha uma proporção de níquel e cromo diferente do aço 316L moderno, conferindo-lhe um tom ligeiramente mais quente e cinza, muito apreciado em fotografia macro.
A coroa original não era rosqueada e raramente assinada com o logotipo Omega nas primeiras versões, o que frequentemente leva a dúvidas sobre originalidade em avaliações.
Algumas versões raras do CK 650 foram equipadas com mostradores pretos 'Gilt' (dourados galvanizados), uma configuração altamente cobiçada que remete aos primeiros relógios de piloto.