RESUMO
No panteão da alta relojoaria vintage, poucas peças evocam tanto respeito e admiração purista quanto o Omega Constellation Referência 2652. Lançado no início da década de 1950, este modelo não é apenas um relógio; é um manifesto de supremacia técnica da Omega durante a sua 'Era de Ouro'. Posicionado no topo da hierarquia da marca, o Constellation foi concebido para o executivo exigente e o conhecedor de precisão, servindo como o porta-estandarte da cronometria suíça. O Ref. 2652 distingue-se por ser uma das primeiras iterações desta linhagem lendária, encapsulando a transição estética e mecânica do pós-guerra. Equipado com os célebres movimentos automáticos de 'para-choque' (bumper), ele oferece uma experiência tátil única no pulso, onde o usuário sente fisicamente o batimento do mecanismo de corda. O seu design, muitas vezes apresentando o icônico mostrador 'Pie-Pan', estabeleceu uma linguagem visual de sofisticação discreta que transcende tendências passageiras. Para o colecionador moderno, o 2652 representa a fusão perfeita entre a elegância formal de um 'dress watch' e a robustez técnica de um instrumento científico certificado, sendo um testemunho tangível de uma época em que a Omega dominava inquestionavelmente os testes de observatório astronômico.
HISTÓRIA
A história do Omega Constellation Ref. 2652 é, em essência, a crônica da busca obsessiva da Omega pela perfeição cronométrica. Para compreender a gravidade deste modelo, devemos recuar a 1948, quando a marca lançou o modelo 'Centenary' para celebrar o seu 100º aniversário. O sucesso estrondoso desse relógio de edição limitada, que possuía certificação de cronômetro, revelou um apetite voraz do mercado por relógios de precisão produzidos em série, mas com acabamento de luxo. Em 1952, essa demanda culminou no nascimento da linha Constellation, e a Referência 2652 emergiu como um dos pilares fundadores desta dinastia.
O 2652 é tecnicamente fascinante porque se situa na era dos movimentos 'Bumper' (ou de martelo). Antes do aperfeiçoamento e da onipresença do rotor de 360 graus, a Omega utilizava um peso oscilante que viaja apenas cerca de 120 graus antes de atingir molas de amortecimento, retornando em seguida. O Calibre 354, que equipa a maioria dos 2652, é uma maravilha da engenharia mecânica da época, conhecido pela sua robustez e pela capacidade de manter uma precisão rigorosa, digna dos boletins de marcha dos observatórios. O uso deste calibre confere ao 2652 uma 'alma' mecânica distinta; o usuário sente um leve impacto no pulso ao mover o braço, uma característica tátil que os colecionadores modernos adoram, pois conecta-os diretamente à física do movimento.
Esteticamente, o Ref. 2652 ajudou a codificar o DNA do Constellation. Embora as famosas garras 'Dog Leg' só aparecessem em referências posteriores (como a 168.005), o 2652 apresentava garras suavemente curvadas e elegantes, soldadas a uma caixa de fundo rosqueado, o que lhe conferia uma resistência à umidade superior à dos seus contemporâneos de fundo de pressão (snap-back). O mostrador é o palco principal deste modelo: a introdução do dial 'Pie-Pan' (assim chamado por se assemelhar a uma forma de torta invertida) não foi apenas uma escolha estilística, mas uma demonstração de complexidade de fabricação. Os índices facetados de ouro aplicados à mão e a estrela dourada acima das 6 horas tornaram-se símbolos instantâneos de status.
O impacto do 2652 na indústria foi profundo. Ele solidificou a reputação da Omega não apenas como fabricante de relógios utilitários ou militares, mas como uma 'Maison' capaz de produzir elegância em massa com precisão científica. O medalhão do Observatório de Genebra no fundo da caixa, com suas oito estrelas, não é mero adorno; comemora os oito recordes de precisão que a Omega quebrou em Kew-Teddington e Genebra. O 2652 carrega esse legado nas costas, servindo como a ponte vital entre os primeiros experimentos automáticos da marca e a dominação total do mercado de cronômetros nas décadas de 1960 e 1970.
CURIOSIDADES
A Sensação do 'Bumper': Devido ao movimento do martelo que bate nas molas de amortecimento, usar um 2652 oferece uma sensação física de 'thud' ou vibração no pulso, algo inexistente nos automáticos modernos de rotor completo.
O Significado das Estrelas: As oito estrelas no medalhão do Observatório no fundo da caixa representam dois recordes de precisão em Kew-Teddington (1933 e 1936) e seis vitórias consecutivas em Genebra entre 1945 e 1950.
Disputa de Nome: Nos Estados Unidos, devido a um conflito de marca registrada com a Lockheed (fabricante do avião Constellation), os primeiros modelos, incluindo variações do 2652, eram frequentemente vendidos com o nome 'Globemaster' ou simplesmente sem o nome Constellation no mostrador até o acordo ser resolvido.
Mostradores de Ouro 'DeLuxe': Existem versões ultra-raras do 2652 com mostradores em ouro maciço 18k, conhecidos como 'DeLuxe', que apresentam índices também em ouro e são o santo graal para colecionadores desta referência.
O Pai do Design: Embora Gérald Genta seja frequentemente associado aos Constellations 'C-Shape' dos anos 60, o design clássico do 2652 e do mostrador Pie-Pan é atribuído à equipe interna da Omega da época, fortemente influenciada pelo designer René Bannwart, que mais tarde fundaria a Corum.