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Omega 'Borgel' Trench Watch (c. 1900) - O Pioneiro da Caixa Estanque e a Gênese do Relógio de Pulso Militar


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Um dos primeiros relógios de pulso com caixa estanque produzida em colaboração com François Borgel, precursor da resistência à água.

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RESUMO

O Omega com caixa Borgel, surgido na virada do século XX, não é apenas um instrumento de cronometragem; é um artefato antropológico que marca a transição definitiva do relógio de bolso para o relógio de pulso. No ano seminal de 1900, enquanto a aristocracia ainda via o relógio de pulso como um adereço feminino, a Omega, em colaboração visionária com o inventor genebrino François Borgel, começou a redefinir a utilidade horológica para um público emergente: oficiais militares e exploradores. Este modelo representa a primeira tentativa séria e industrializada de proteger o delicado movimento mecânico contra os elementos hostis — poeira, umidade e detritos — que definiam os campos de batalha da Guerra dos Bôeres e, posteriormente, da Primeira Guerra Mundial. Com sua construção patenteada de peça única, o Omega Borgel posicionou-se como o avô espiritual dos 'Tool Watches' modernos. Ele não foi desenhado para salões de baile, mas para trincheiras e cabines de aviões rudimentares, estabelecendo a filosofia de design de que a forma deve seguir a função de sobrevivência. Para o colecionador contemporâneo, este relógio é o 'Elo Perdido' da horologia, demonstrando a engenharia precoce necessária para transformar um objeto de joalheria em uma ferramenta de precisão robusta, pavimentando o caminho para a futura linha Seamaster e para o conceito de impermeabilidade que dominaria o século seguinte.

HISTÓRIA

A história do Omega equipado com a caixa Borgel é, em essência, a história da legitimação do relógio de pulso masculino. Antes de 1900, os homens confiavam quase exclusivamente em relógios de bolso. O relógio de pulso era considerado uma 'pulseira' (wristlet), uma frivolidade reservada às damas da corte. No entanto, a eclosão da Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902) e o avanço da tecnologia bélica criaram uma necessidade pragmática: oficiais precisavam coordenar ataques e artilharia com as duas mãos livres, tornando o ato de sacar um relógio do bolso perigoso e ineficiente. Neste cenário, a Omega, já reconhecida pela precisão de seus calibres, buscou uma solução para a fragilidade inerente dos primeiros relógios de pulso, que eram essencialmente movimentos de relógios de bolso femininos soldados a alças. A resposta veio de Genebra, através de François Borgel. Em 1891, Borgel patenteou (Patente Suíça CH 4001) uma caixa revolucionária de peça única. Diferente das caixas padrão com fundo de pressão ou dobradiças — que permitiam a entrada fácil de poeira e água —, a caixa Borgel era um monobloco roscado. O movimento não era inserido por trás, mas sim pela frente, e a luneta (com o cristal) era então rosqueada sobre a caixa, selando o mecanismo hermeticamente contra os elementos externos. Por volta de 1900, a Omega tornou-se uma das principais clientes da manufatura de Borgel. A combinação dos robustos movimentos de 13 linhas da Omega com a caixa 'impermeável' de Borgel criou um produto sem precedentes. Não era apenas um relógio; era um equipamento de campo. Durante a primeira década do século XX, estes relógios começaram a aparecer nos pulsos de oficiais britânicos e engenheiros pioneiros. A construção exigia uma técnica específica para a manutenção: a coroa e a 'tige' (haste) eram divididas, permitindo que o movimento fosse desenroscado da caixa, uma inovação técnica fascinante para a época. Esteticamente, o modelo evoluiu pouco nos seus primeiros anos, mantendo a pureza do mostrador em esmalte branco com numerais de alta visibilidade, muitas vezes pintados com rádio nos anos subsequentes à medida que a guerra de trincheiras se intensificava em 1914. A colaboração Omega-Borgel estabeleceu o padrão de ouro para a durabilidade. Enquanto a Rolex levaria o crédito popular pela caixa Oyster em 1926 (que introduziu a coroa rosqueada), foi o design de Borgel, adotado pela Omega décadas antes, que provou que um relógio de pulso poderia ser selado contra o ambiente. Para a Omega, este modelo é a fundação sobre a qual a lendária reputação da marca em cronometragem esportiva e militar foi construída. Sem o sucesso e a validação do Omega Borgel nos campos lamacentos do início do século XX, a linhagem que levou ao Seamaster e ao Speedmaster poderia ter tomado um rumo muito diferente.

CURIOSIDADES

O '12 Vermelho': Muitos destes modelos apresentam o numeral 12 em vermelho vibrante. Isso não era apenas estético, mas uma funcionalidade ergonômica para ajudar os primeiros usuários a orientar o relógio rapidamente no pulso, já que a leitura no ângulo do braço era uma novidade. Patente CH 4001: A marca registrada da caixa Borgel é a pequena inscrição 'FB' sobre uma chave, geralmente encontrada no interior da caixa, acompanhada pela patente suíça, um 'santo graal' de autenticação para colecionadores. A Haste Bipartida: Para remover o movimento da caixa monobloco, a coroa precisava ser puxada com força para desengatar uma haste telescópica (split stem), uma característica técnica que confunde muitos relojoeiros modernos não familiarizados com antiguidades. O Legado Taubert: Após a morte de François Borgel em 1912, sua filha Louisa assumiu a empresa, vendendo-a posteriormente à família Taubert, que continuou a fornecer as melhores caixas resistentes à água para a Omega e Patek Philippe até a década de 1960. Precursor do Lume: Embora o Trítio e a Super-LumiNova sejam padrões hoje, os modelos Omega Borgel posteriores a 1910 foram os primeiros a usar tinta de Rádio perigosa e brilhante nos numerais, exigindo cuidado extremo no manuseio atual devido à radiação residual. Resistência Real: Existem relatos de época de oficiais que deixaram seus Omega Borgel caírem em rios ou baldes de água e, após a recuperação, os relógios continuavam funcionando, um feito milagroso para a tecnologia de 1900. 'Trench Watch': Este modelo é frequentemente classificado como o arquétipo do 'Relógio de Trincheira', o elo evolucionário direto entre o relógio de bolso vitoriano e o relógio de pulso moderno.

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