RESUMO
O Omega Calibre 18’’’ CHRO não é meramente um movimento; é a pedra angular sobre a qual todo o império de cronometragem desportiva da Omega foi edificado. Lançado no final do século XIX, este mecanismo representa o momento crucial em que a manufatura de Bienne transcendeu a produção de relógios de bolso convencionais para se estabelecer como uma autoridade absoluta na medição de intervalos de tempo. Originalmente concebido para relógios de bolso robustos e instrumentos profissionais, o 18’’’ CHRO encontrou o seu público entre oficiais de artilharia, primeiros aviadores e entusiastas do desporto nascente, que exigiam uma precisão inabalável num mundo em rápida aceleração industrial. A sua filosofia de design priorizava a legibilidade e a fiabilidade mecânica acima da ornamentação supérflua, resultando numa estética utilitária mas profundamente elegante, frequentemente caracterizada por mostradores de esmalte 'Grand Feu' imaculados. Para o colecionador contemporâneo, possuir um exemplar equipado com o Calibre 18’’’ CHRO é deter um fragmento da história industrial; é testemunhar a transição da era vitoriana para a modernidade e compreender a linhagem genética que eventualmente daria origem ao lendário Speedmaster. É uma peça de 'Alta Relojoaria' histórica, destinada não ao uso casual, mas à curadoria de um conhecedor que valoriza a gênese da complicação mais célebre da Omega.
HISTÓRIA
A história do Omega Calibre 18’’’ CHRO é, indissociavelmente, a história da ascensão da Omega como a cronometrista do mundo. Para compreender a gravitas deste modelo, devemos recuar até 1898. A empresa, operando ainda sob a sombra dos irmãos fundadores Louis-Paul e César Brandt, procurava solidificar a sua reputação não apenas como produtora de relógios de qualidade em massa, mas como inovadora técnica. O Calibre 18’’’ CHRO (onde 18’’’ refere-se ao diâmetro do movimento em linhas francesas, aproximadamente 40.6mm, e CHRO à função de cronógrafo) foi a resposta enfática da marca. Foi o primeiro calibre de cronógrafo desenhado e produzido internamente pela Omega, marcando uma declaração de independência das fornecedoras de ébauches do Val-de-Travers.
No alvorecer do século XX, o mundo estava a mudar. A guerra tornava-se mecanizada e o desporto organizado ganhava popularidade. O 18’’’ CHRO foi desenhado para ser robusto, reparável e preciso. A sua arquitetura baseava-se numa roda de colunas tradicional, considerada até hoje o auge da operação tátil de um cronógrafo, proporcionando um acionamento suave e preciso dos ponteiros. Durante as primeiras duas décadas de produção, este calibre equipou predominantemente relógios de bolso. Contudo, a sua importância histórica aprofunda-se com a eclosão da Primeira Guerra Mundial. A necessidade de coordenar ataques de artilharia e movimentos de tropas fez com que muitos destes movimentos fossem adaptados para caixas de pulso ou usados em 'relógios de trincheira', tornando-os precursores diretos do relógio de pulso moderno.
A evolução estética do modelo acompanhou as tendências da Belle Époque e da Art Nouveau. Os primeiros exemplares apresentavam caixas de ouro maciço ou prata profusamente gravadas, destinadas a cavalheiros. À medida que a sua utilidade militar se tornou evidente, surgiram versões em 'Gunmetal' — aço escurecido quimicamente para evitar reflexos no campo de batalha — com mostradores de esmalte de alta legibilidade. Estes mostradores de esmalte são, por si só, maravilhas da técnica; cozidos a temperaturas extremas, mantêm a sua brancura e brilho vítreo mais de um século depois, imunes à oxidação que afeta mostradores metálicos posteriores.
O legado do 18’’’ CHRO reside no fato de ter servido como banco de ensaio para a Omega. As lições aprendidas na sua produção em série permitiram o desenvolvimento de calibres menores, como o 13’’’ CHRO e, décadas mais tarde, o seminal Calibre 321 que iria à Lua. Sem o sucesso comercial e técnico do robusto 18 linhas, a Omega poderia nunca ter desenvolvido a especialização em cronógrafos que lhe garantiu o contrato para os Jogos Olímpicos de 1932. Para o colecionador, o 18’’’ CHRO não é apenas um relógio antigo; é o patriarca de uma dinastia, um instrumento científico que sobreviveu a guerras e revoluções industriais, mantendo o seu coração mecânico a bater com a mesma cadência de 18.000 alternâncias que marcava o tempo num mundo muito diferente do nosso.
CURIOSIDADES
1. O Primeiro de Todos: O 18’’’ CHRO de 1898 é oficialmente reconhecido como o primeiro calibre de cronógrafo produzido em série pela Omega, estabelecendo a fundação para a linha Speedmaster.
2. O Mistério da 'Rattrapante': Embora raros, existem exemplares deste calibre modificados com a função 'Rattrapante' (split-seconds) para cronometragem desportiva avançada no início do século XX.
3. O Mostrador Imortal: A maioria destes relógios utiliza mostradores de esmalte 'Grand Feu'. Se não tiverem sofrido impactos físicos (rachadelas ou 'hairlines'), estes mostradores parecem tão novos hoje como no dia em que saíram do forno há 120 anos.
4. O Favorito dos Artilheiros: Devido à sua precisão e legibilidade, muitos exemplares foram comprados privadamente por oficiais militares durante a Guerra dos Bôeres e a I Guerra Mundial para cálculos de distância de artilharia.
5. Gunmetal: A variação de caixa em 'Gunmetal' com detalhes em ouro rosa é uma das combinações estéticas mais procuradas por colecionadores de vanguarda, representando a fusão perfeita entre a ferramenta militar e a joia de cavalheiro.
6. A Origem do Botão: Muitos modelos 18’’’ CHRO operam como monopulsantes integrados na coroa, uma complicação que hoje é reservada apenas para peças de altíssima relojoaria de marcas como Patek Philippe ou Vacheron Constantin.
7. Certificação de Cronometria: Embora o conceito moderno de COSC não existisse, muitos destes movimentos eram ajustados em múltiplas posições e temperaturas, competindo e vencendo em testes de observatórios de Neuchâtel e Kew-Teddington.