RESUMO
O Rolex Oysterquartz Datejust Ref. 17000 é, sem dúvida, uma das criações mais fascinantes e polarizadoras na ilustre história da manufatura genebrina. Lançado em 1977, no auge da tumultuada 'Crise do Quartzo', este relógio não foi uma capitulação à nova tecnologia, mas sim uma declaração de superioridade técnica. Diferente de muitas marcas que adotaram o quartzo como uma medida de redução de custos, a Rolex abordou o Oysterquartz com a filosofia de 'over-engineering', criando um movimento que apresentava um acabamento e uma robustez iguais, ou até superiores, aos seus calibres mecânicos lendários.
Esteticamente, o Ref. 17000 rompeu radicalmente com as curvas suaves da caixa Oyster tradicional. Ele abraçou o zeitgeist dos anos 70 com uma arquitetura de caixa angular, facetada e um bracelete integrado que flui organicamente, evocando comparações com obras de Gérald Genta, embora tenha sido desenhado inteiramente 'in-house' pela Rolex. Posicionado no mercado como um relógio de luxo de vanguarda, era na época mais caro do que o seu homólogo automático, o Datejust Ref. 16000. Destinado a um público que valorizava a precisão absoluta sem renunciar ao prestígio de um acabamento manual excepcional, o Oysterquartz representa um capítulo singular onde a Rolex provou que poderia dominar qualquer tecnologia que escolhesse, transformando um componente eletrônico em arte horológica.
HISTÓRIA
A gênese do Rolex Oysterquartz Datejust Ref. 17000 remonta a um período de instabilidade existencial para a indústria suíça. No início da década de 1970, a tecnologia de quartzo japonesa ameaçava tornar a relojoaria mecânica obsoleta. A resposta inicial da Rolex foi colaborativa; unindo-se ao consórcio Centre Électronique Horloger (CEH) para desenvolver o movimento Beta 21. O resultado foi o Rolex Ref. 5100 'Texan', lançado em 1970. Embora tecnicamente impressionante, o Beta 21 era grande demais para a caixa Oyster padrão e, crucialmente, não era um produto puramente Rolex. Insatisfeita com a dependência externa e as limitações de design, a Rolex retirou-se do consórcio para desenvolver o seu próprio calibre de quartzo, um projeto que consumiria cinco anos de engenharia intensiva.
Em 1977, a marca revelou o fruto desse trabalho: o Oysterquartz. O Ref. 17000 (todo em aço) foi lançado juntamente com o 17013 (aço e ouro) e o 17014 (aço com luneta de ouro branco). O coração deste relógio, o Calibre 5035, era uma maravilha técnica. Diferente dos movimentos de quartzo baratos que inundavam o mercado, o 5035 possuía 11 rubis e utilizava um mecanismo de âncora e roda de escape semelhante a um relógio mecânico para acionar os ponteiros, resultando em um tique-taque audível e distinto. Além disso, o movimento era decorado com 'Côtes de Genève' tão refinadas quanto qualquer movimento automático da marca, demonstrando que o quartzo, para a Rolex, merecia respeito artesanal.
O design da caixa foi outra revolução. Abandonando as curvas fluidas, o Ref. 17000 apresentava linhas nítidas, arestas vivas e um bracelete integrado que não permitia a troca por correias convencionais. Este design sólido e angular era muito mais robusto do que os braceletes 'jubilee' ou 'oyster' ocos da época. Ao longo de sua produção, que durou cerca de 25 anos (encerrando-se por volta de 2001-2003), o modelo viu evoluções sutis. Os primeiros modelos (Mark I) não possuíam a certificação COSC, que foi adicionada posteriormente (Mark II), alterando o texto do mostrador para incluir 'Superlative Chronometer Officially Certified'.
O impacto do Oysterquartz na história da Rolex é profundo, embora muitas vezes subestimado. Ele serviu como a âncora de precisão da marca durante décadas incertas e provou que a Rolex não era dogmática sobre a mecânica, mas sim obcecada pela qualidade. Com uma produção estimada em menos de 25.000 unidades para todos os modelos Oysterquartz combinados ao longo de um quarto de século, o Ref. 17000 é hoje significativamente mais raro do que seus irmãos mecânicos, como o Submariner ou o Datejust padrão, tornando-se uma peça cultuada por colecionadores que buscam a 'Rolex que quebrou as regras'.
CURIOSIDADES
O Calibre 5035 é famoso por ser um dos movimentos de relógio mais barulhentos já produzidos; o 'tique-taque' do motor de passo é audível em uma sala silenciosa.
Reinhold Messner, o lendário alpinista, usou um Rolex Oysterquartz ao se tornar o primeiro homem a escalar o Monte Everest sem oxigênio suplementar em 1978, provando a robustez extrema do movimento.
Ao contrário da crença popular de que o design foi feito por Gérald Genta (criador do Royal Oak), o design do Oysterquartz é inteiramente in-house da Rolex, embora claramente influenciado pela estética da época.
O Oysterquartz foi um dos primeiros relógios da Rolex a ser equipado com um cristal de safira como padrão, muito antes de isso se tornar comum na linha esportiva mecânica.
Existem mostradores extremamente raros para o Ref. 17000, incluindo versões com o brasão de Omã (Khanjar) e mostradores roxos 'plum' que mudaram de cor devido a defeitos na pintura original, altamente valorizados hoje.
O movimento inclui um termistor para compensação térmica, permitindo que o relógio mantenha uma precisão de +/- 60 segundos por ano, muito superior aos padrões COSC mecânicos.
Embora a produção tenha cessado no início dos anos 2000, a Rolex continuou a atender pedidos de catálogo e vender estoque antigo até 2003, nunca emitindo um comunicado oficial de descontinuação.