RESUMO
O Zenith Port Royal equipado com o lendário Calibre 135 não é apenas um relógio de pulso; é um monumento à obsessão humana pela precisão mecânica que definiu a relojoaria de meados do século XX. Situado no panteão da 'Haute Horlogerie' vintage, este modelo foi concebido num período em que a precisão cronométrica era a moeda mais valiosa de uma manufatura. Destinado originalmente a um público de elite — cientistas, industriais e puristas que exigiam nada menos que a perfeição — o Port Royal serviu como o invólucro comercial de luxo para o movimento de corda manual mais premiado da história da Zenith. A sua filosofia de design é o epítome da elegância discreta: uma estética de 'dress watch' refinada que esconde sob o mostrador uma arquitetura técnica revolucionária, capaz de superar os mais rigorosos testes de observatório. No mercado atual de colecionadores, representa o auge da era dourada da cronometria suíça, sendo uma peça fundamental para compreender a transição da relojoaria utilitária para a arte da precisão científica.
HISTÓRIA
A história do Zenith Port Royal equipado com o Calibre 135 é indissociável da biografia de um dos maiores génios da relojoaria suíça: Ephrem Jobin. No final da década de 1940, a corrida pela precisão cronométrica entre as manufaturas suíças assemelhava-se à corrida espacial das superpotências globais. A Zenith encarregou Jobin de criar um movimento de 30mm que pudesse destronar a concorrência, nomeadamente a Omega e a Peseux, nos concursos de observatório. Lançado comercialmente em 1949 e atingindo o seu apogeu competitivo a partir de 1950, o Calibre 135 foi uma rutura radical com a tradição. Jobin compreendeu que a estabilidade de marcha dependia do tamanho do volante (balanço). Para maximizar este componente num movimento de tamanho restrito, ele deslocou a roda de minutos do centro para a periferia, permitindo a instalação de um balanço massivo de 13mm — significativamente maior do que qualquer outro concorrente da época. O modelo Port Royal, introduzido neste contexto, foi uma das primeiras e mais prestigiadas coleções a abrigar a versão 'civil' deste motor de competição. Enquanto a versão 135-O (Observatório) acumulava um recorde inigualável de 200 prémios de cronometria, incluindo cinco primeiros prémios consecutivos no Observatório de Neuchâtel de 1950 a 1954, o Port Royal levava essa excelência ao pulso do cliente final. A caixa do Port Royal, frequentemente esculpida em ouro maciço, foi desenhada para proteger este mecanismo delicado com uma sofisticação que transcendia as tendências passageiras. Ao longo da década de 1950, o design evoluiu subtilmente, com variações nos índices e nos ponteiros, mas a arquitetura do movimento permaneceu a sua alma imutável. A produção total do Calibre 135 foi extremamente limitada — estima-se que apenas cerca de 11.000 unidades foram produzidas durante toda a sua vida útil (1949-1962) — tornando os modelos Port Royal desta era relíquias raras. Este relógio não apenas solidificou a reputação da Zenith como a 'Manufatura das Estrelas', mas também estabeleceu os alicerces técnicos e culturais que permitiriam à marca, décadas mais tarde, criar o El Primero. O Port Royal Calibre 135 permanece, portanto, como o testemunho físico de uma era em que a relojoaria mecânica atingiu o seu limite teórico de precisão manual.
CURIOSIDADES
O criador do movimento, Ephrem Jobin, viveu até aos 105 anos (falecendo em 2014), testemunhando o renascimento lendário da sua criação no século XXI.
Devido ao deslocamento da roda de minutos para acomodar o grande balanço, os ponteiros do Calibre 135 não são acionados diretamente pelo centro do movimento de forma tradicional, uma peculiaridade técnica fascinante para relojoeiros.
O Calibre 135 é o único movimento na história a ganhar prémios no Observatório de Neuchâtel por cinco anos consecutivos na categoria de relógios de pulso (1950-1954).
Em leilões recentes, exemplares do Calibre 135 (especialmente as versões de Observatório ou em caixas Port Royal imaculadas) têm atingido valores recordes, redefinindo o mercado vintage da Zenith.
O relojoeiro independente de renome mundial, Kari Voutilainen, colaborou recentemente com a Zenith para restaurar e encerrar um pequeno lote de movimentos Calibre 135-O originais da época, confirmando o estatuto de culto deste calibre.
Apesar de ser um 'Chronometre' certificado, nem todos os mostradores da linha Port Royal ostentavam a inscrição 'Chronometre', tornando a verificação do movimento essencial para colecionadores.
A designação 'Port Royal' foi utilizada pela Zenith para denotar as suas linhas de maior prestígio, evocando robustez e luxo atemporal, muito antes de ser associada aos designs retangulares ou futuristas das décadas posteriores.