RESUMO
No panteão da horologia do século XX, poucos relógios evocam a sofisticação e a pureza de design da era dourada da relojoaria suíça como o Omega Constellation Referência 2852. Lançado em meados da década de 1950, este modelo não foi apenas um instrumento de tempo, mas uma declaração de intenções da Omega, posicionando-se como o pináculo da precisão e do luxo discreto. Enquanto o Speedmaster olhava para as estrelas e o Seamaster para as profundezas, o Constellation 2852 foi concebido para os corredores do poder, para os pulsos de diplomatas e industriais. A sua filosofia de design é centrada na harmonia arquitetônica, destacando-se pelo célebre mostrador 'Pie Pan' (forma de forma de torta invertida), que reflete a luz de maneira tridimensional e cativante. Este modelo é o arquétipo do 'dress watch' perfeito: dimensões contidas, metais preciosos e um movimento cronômetro certificado que desafiava os limites da precisão mecânica da época. Para o colecionador moderno, o 2852 representa o ponto de equilíbrio ideal entre a engenhosidade técnica dos calibres da série 500 e a estética vintage inconfundível. É um relógio que transcende a mera funcionalidade para se tornar uma obra de arte industrial, simbolizando uma época em que a elegância não era opcional, mas um requisito fundamental.
HISTÓRIA
A história do Omega Constellation Referência 2852 é a crônica da maturação da Omega como a potência dominante na cronometria de pulso da década de 1950. Quando a linha Constellation foi inaugurada em 1952, ela herdou o prestígio do modelo 'Centenary', mas foi com a introdução de referências como a 2852, por volta de 1954-1955, que a coleção encontrou a sua identidade visual definitiva e duradoura.
Historicamente, o 2852 é crucial por marcar uma transição técnica e estética. Ele foi um dos primeiros modelos a abandonar os movimentos 'Bumper' (de impulsionador parcial) das referências anteriores (como a 2652) em favor da série de calibres 50x (501/505) com rotor de 360 graus. Esta mudança não só melhorou a eficiência de corda e a reserva de marcha, mas também permitiu uma caixa ligeiramente mais aerodinâmica. No entanto, o que verdadeiramente distingue o 2852 aos olhos dos historiadores é a introdução das asas 'Dog-Leg'. Ao contrário das curvas suaves e contínuas dos seus antecessores, as asas do 2852 apresentam uma quebra angular acentuada e facetada, conferindo ao relógio uma presença mais robusta e arquitetônica no pulso. Este detalhe de design tornou-se tão emblemático que definiu a silhueta do Constellation por mais de uma década.
O mostrador 'Pie Pan' de 12 lados, presente nesta referência, não era meramente estético; servia para acomodar a altura do movimento e criar um jogo de luz que facilitava a leitura sob os cristais de hesalite abobadados. Durante a sua produção, o 2852 viu variações sublimes, incluindo os cobiçados mostradores 'De Luxe' em ouro maciço e as raras versões com índices de diamante.
A importância deste modelo reside na sua capacidade de encapsular o auge da obsessão da Omega pela precisão. O medalhão no fundo da caixa, retratando o Observatório de Genebra sob um céu estrelado, não é um mero adorno; comemora os recordes de precisão quebrados pela marca em 1931 e nos anos subsequentes. O 2852 solidificou a reputação do Constellation como o 'relógio do suíço', uma peça que, antes da revolução do quartzo, representava o máximo que a engenharia mecânica poderia oferecer em termos de fiabilidade portátil. Hoje, ele é reverenciado não apenas como um relógio vintage, mas como o padrão-ouro do design de meados do século.
CURIOSIDADES
A alcunha 'Pie Pan' refere-se à semelhança do mostrador facetado com uma forma de torta invertida, um termo cunhado por colecionadores e não pela Omega.
As oito estrelas no medalhão do Observatório no fundo da caixa representam os oito recordes de precisão que a Omega conquistou nos testes de Kew-Teddington e Genebra.
Elvis Presley foi fotografado usando um Omega Constellation similar durante o seu serviço militar na Alemanha, solidificando o status de ícone cultural do modelo.
Devido a uma disputa de direitos autorais nos Estados Unidos, muitos destes modelos foram importados e vendidos com a inscrição 'Globemaster' no mostrador em vez de 'Constellation' por um breve período na década de 1950.
O designer de relógios mais famoso do mundo, Gerald Genta, redesenhou a linha Constellation na década de 1960 (caixa em formato 'C'), mas puristas consideram o design 'Dog-Leg' do 2852 como a forma mais clássica e desejável.
Existem versões extremamente raras do 2852 com mostrador em esmalte 'Cloisonné', que atingem valores astronômicos em leilões internacionais.
O Calibre 505, frequentemente encontrado em versões posteriores do 2852, foi um dos últimos grandes movimentos de baixa frequência desenvolvidos antes da Omega transicionar para as séries 550 e 560.