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Vacheron Constantin Reference 3620 "Don Pancho" – O Santo Graal da Alta Relojoaria e a Lenda do Repetidor de Minutos com Data Retrógrada


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Um relógio de pulso único encomendado em 1935 e concluído em 1940 para Francisco “Don Pancho” Llano. Combinou um repetidor de minutos com um inovador calendário retrógrado de 31 dias, sendo um dos primeiros a unir essas duas complicações em um relógio de pulso.

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RESUMO

O Vacheron Constantin Referência 3620, apelidado reverentemente de "Don Pancho", transcende a definição de relógio de pulso para se estabelecer como um mito horológico tangível. Esta peça única ("Pièce Unique"), encomendada na era de ouro da relojoaria mecânica, representa um dos ápices da criatividade técnica da manufatura genebrina. Concebido não para produção em massa, mas como uma realização dos desejos ultra-específicos de um patrono exigente, o Don Pancho ocupa um nicho solitário no mercado: o de "relógio-troféu" definitivo. Sua filosofia de design é uma fusão audaciosa de elegância Art Déco com complicações que, na década de 1930, eram consideradas quase impossíveis de miniaturizar para o pulso. Ele não foi feito para mergulho, aviação ou esportes, mas para a apreciação intelectual do tempo em sua forma mais complexa. No mundo da alta relojoaria, sua importância é monumental, servindo como o elo perdido que prova a capacidade da Vacheron Constantin de inovar décadas à frente de seus concorrentes, unindo a utilidade do calendário retrógrado à poesia acústica do repetidor de minutos em uma caixa de ouro de formato não convencional.

HISTÓRIA

A história do Vacheron Constantin Referência 3620, o "Don Pancho", lê-se como um romance de mistério e descoberta arqueológica. A gênese deste modelo remonta a 1935, quando a Vacheron Constantin recebeu uma carta de seu concessionário em Madrid, a joalheria Brooking. O pedido era para um cliente importante baseado no Chile, Francisco Martinez Llano, conhecido carinhosamente como "Don Pancho". O pedido era audacioso: um relógio de pulso que possuísse as funções de um relógio de bolso de grande complicação — especificamente, um repetidor de minutos e um calendário retrógrado. Nos anos 30, miniaturizar um mecanismo de repetição já era uma façanha; combiná-lo com uma data retrógrada (onde o ponteiro salta de volta ao início após o dia 31) em uma caixa de pulso curvada era território inexplorado. A manufatura em Genebra levou três anos apenas para resolver os desafios técnicos e mais dois para finalizar a peça, entregando-a finalmente em janeiro de 1940. O resultado foi um relógio com a coroa incomumente posicionada às 12 horas e o acionador da repetição no lado direito da caixa, sugerindo uma adaptação engenhosa de um calibre de relógio de pingente ou de bolso pequeno, modificado extensivamente. Após a morte de Don Pancho em 1947, o relógio desapareceu. Por mais de 60 anos, existiu apenas em fotografias granuladas em preto e branco nos arquivos da Vacheron, tornando-se uma lenda urbana entre colecionadores. Muitos duvidavam que ele ainda existisse ou que tivesse sobrevivido intacto. O relógio permaneceu em um cofre na América do Sul, esquecido, até que reapareceu, irreconhecível e corroído, nas mãos da família do proprietário original. Quando foi redescoberto, o relógio estava em condições precárias; o mostrador original estava quase destruído pela umidade e o movimento travado. No entanto, a autenticidade foi confirmada. Antes de ir a leilão em 2019, a peça foi enviada de volta a Genebra, onde os especialistas do departamento de Patrimônio da Vacheron Constantin realizaram uma restauração milagrosa. Utilizando ferramentas da época e consultando os esboços originais de 1935, eles restauraram o movimento à sua glória sonora e fabricaram um novo mostrador idêntico ao original (mantendo o mostrador original danificado como prova histórica). O "Don Pancho" não teve sucessores diretos ou "gerações" no sentido tradicional, pois foi uma peça única. No entanto, seu impacto é imensurável. Ele antecipou em quase sessenta anos a tendência moderna de combinar repetição de minutos com displays retrógrados, algo que a Vacheron Constantin só revisitaria em suas coleções "Patrimony" no século XXI. Ele permanece como um testamento da engenharia de vanguarda da era pré-computador.

CURIOSIDADES

Vendido pela Phillips em Genebra (maio de 2019) por impressionantes CHF 1.724.000, tornando-se na época o segundo relógio de pulso Vacheron Constantin mais caro da história. O apelido "Don Pancho" é uma homenagem direta ao proprietário original, Francisco Martinez Llano, um empresário espanhol radicado no Chile que fez fortuna na mineração e agricultura. A configuração da coroa às 12 horas e a caixa Tonneau dão a ele uma aparência de "Bullhead", extremamente rara para relógios sociais da década de 1940. É tecnicamente um dos primeiros, senão o primeiro, relógio de pulso a combinar repetição de minutos com data retrógrada, uma combinação que muitos historiadores acreditavam não existir antes dos anos 90. O lote do leilão incluía dois mostradores: o novo, refeito pela Vacheron Constantin para a restauração, e o original de 1940, que estava ilegível devido aos danos causados pela água e pelo tempo. A pulseira original era fixa, costurada diretamente nas alças do relógio, uma característica típica dos primeiros relógios de pulso adaptados ou de alta segurança. O fundo da caixa possui as iniciais "FML" em esmalte azul, personalização de fábrica solicitada por Don Pancho para garantir que a peça fosse inequivocamente sua.

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