RESUMO
O lançamento do Breitling Navitimer Rattrapante em 2017 representou um divisor de águas na história moderna da manufatura de Grenchen, simbolizando a transição final de uma casa de montagem de alta qualidade para uma verdadeira 'manufacture' de alta relojoaria capaz de produzir as mais complexas complicações em escala industrial. Este modelo não é apenas um instrumento de aviação; é uma declaração de proeza técnica. Posicionado no topo da pirâmide da coleção Navitimer, este relógio destina-se ao colecionador purista que valoriza a mecânica intrínseca acima da ostentação. A sua filosofia de design mantém a estética barroca e funcional do slide rule de 1952, mas expande as dimensões para 45mm para acomodar a arquitetura robusta do calibre B03. Enquanto o Navitimer clássico servia pilotos para cálculos de navegação, o Rattrapante serve ao conhecedor que exige a capacidade de cronometrar eventos intermediários sem interromper a contagem principal—uma função historicamente mais desafiadora de construir do que um turbilhão. A introdução deste modelo reafirmou a posição da Breitling como a guardiã absoluta do cronógrafo mecânico no século XXI.
HISTÓRIA
A história do Navitimer Rattrapante de 2017 é, em essência, a história da busca da Breitling pela independência técnica total. Embora a linhagem do Navitimer remonte a 1952, como o instrumento de pulso definitivo para a AOPA (Aircraft Owners and Pilots Association), a introdução de uma complicação rattrapante (split-seconds) inteiramente in-house foi uma conquista tardia, porém monumental. Historicamente, a Breitling produziu cronógrafos split-seconds notáveis, como o lendário Duograph dos anos 1940, mas estes dependiam de ébauches de fornecedores externos. Durante décadas, a complicação rattrapante foi considerada o auge da complexidade dos cronógrafos, muitas vezes reservada para a Patek Philippe ou IWC.
O contexto de 2017 foi crucial: sob a liderança técnica que buscava verticalizar a produção, a Breitling pegou a arquitetura robusta do seu aclamado Calibre B01 (lançado em 2009) e o reengenhou drasticamente. O resultado foi o Calibre B03. O desafio técnico de um rattrapante reside na gestão de energia e atrito; acionar o ponteiro de segundos dividido cria um arrasto parasitário no movimento, o que geralmente reduz a amplitude e a precisão. Para resolver isso, os engenheiros da Breitling desenvolveram duas inovações patenteadas para o B03: um sistema de isolamento que desconecta o mecanismo de parada do fluxo de energia principal quando não está em uso, e um mecanismo de alavanca simplificado para garantir paradas precisas.
Esteticamente, o modelo de 2017 manteve o DNA sagrado do Navitimer: a luneta com régua de cálculo circular, o layout tricompax e as asas chanfradas. No entanto, para diferenciar esta 'besta' mecânica, a Breitling integrou o botão de acionamento do split-seconds diretamente na coroa às 3 horas, uma característica de design elegante que evita a assimetria de um terceiro botão às 10 horas, comum em movimentos baseados no Valjoux 7750. O lançamento deste modelo não apenas completou o catálogo da Breitling, mas serviu como o 'canto do cisne' da era da família Schneider antes da venda da empresa, deixando um legado de engenharia in-house que provou que a marca poderia competir mecanicamente com a 'Santíssima Trindade' da relojoaria.
CURIOSIDADES
O ponteiro do cronógrafo principal possui o logotipo 'B' da marca como contrapeso, enquanto o ponteiro do rattrapante (split) possui a âncora; quando os ponteiros estão zerados ou rodando juntos, os dois elementos se alinham perfeitamente para formar o logotipo clássico da Breitling pré-2018.
O Calibre B03 possui duas patentes específicas: uma relacionada ao mecanismo de isolamento do sistema rattrapante (para economizar energia) e outra para o mecanismo de parada da roda de segundos dividida.
A versão de lançamento em Aço Inoxidável com mostrador 'Panamerican Bronze' tornou-se instantaneamente uma peça de culto devido à sua tonalidade única e estética vintage.
Ao contrário de muitos cronógrafos modulares, o mecanismo rattrapante do B03 é integrado, o que permite uma construção mais fina e confiável do que os módulos adicionados sobre movimentos base.
A complicação rattrapante é considerada por muitos relojoeiros como mais difícil de ajustar e montar perfeitamente do que um turbilhão, devido às dezenas de peças minúsculas que interagem sob tensão variável.
Este modelo é um dos poucos Navitimers modernos que justifica o tamanho de 45mm não apenas pela tendência de moda, mas pela necessidade física de abrigar o complexo mecanismo e garantir a legibilidade da régua de cálculo.