RESUMO
Em 1959, o mundo da alta relojoaria testemunhou uma mudança silenciosa, porém sísmica, nos ateliês da Rolex com a introdução do sistema de regulação Microstella no Calibre 1565. Embora muitas vezes ofuscado pela estética icônica dos relógios que equipava, como o GMT-Master ref. 1675, o sistema Microstella representa o compromisso absoluto da marca com a precisão cronométrica inabalável. Diferente dos sistemas tradicionais que utilizam uma raquete para alterar o comprimento ativo da espiral, a Rolex adotou uma abordagem de 'balanço de mola livre'. Este mecanismo destina-se ao purista técnico e ao colecionador que valoriza a engenharia tanto quanto o design. Ao permitir o ajuste da inércia do balanço através de porcas estelares específicas, a Rolex eliminou as variações de marcha causadas por choques ou fricção no regulador, elevando seus movimentos ao status de 'Superlative Chronometer'. Esta inovação não foi apenas uma melhoria técnica; foi a declaração filosófica que cimentou a reputação da Rolex como a fabricante dos relógios mecânicos mais robustos e precisos do século XX.
HISTÓRIA
A história da regulação Microstella, introduzida em 1959 com o lendário Calibre 1565, é a narrativa da transição da Rolex de uma fabricante de relógios ferramenta para a guardiã da precisão industrializada. Até o final da década de 1950, a maioria dos relógios mecânicos, incluindo os da Rolex, dependia de um sistema de regulação por raquete. Neste sistema tradicional, pinos deslizavam sobre a espiral para encurtar ou alongar seu comprimento efetivo, alterando assim a velocidade do relógio. Embora funcional, este método tinha uma falha crítica: choques físicos poderiam mover a raquete, desregulando o relógio, e a interferência na espiral afetava o isocronismo (a capacidade do relógio manter o tempo independentemente da tensão da mola principal).
Com o lançamento da família de movimentos 15xx, começando pelo 1565 (frequentemente encontrado no GMT-Master 1675), a Rolex implementou o conceito de 'balanço de mola livre' em escala de produção em massa. A solução foi o sistema Microstella. Em vez de tocar na espiral, a Rolex fixou porcas em forma de estrela (daí o nome) no aro do balanço. A inovação crucial de 1959 foi o posicionamento destas porcas: elas foram montadas internamente no aro do balanço. Isso serviu a um propósito duplo: primeiro, melhorou a aerodinâmica do balanço, reduzindo a turbulência do ar que poderia afetar a oscilação; segundo, permitiu o uso de um balanço de diâmetro maior dentro do mesmo espaço do movimento, o que aumenta a inércia e, consequentemente, a estabilidade da marcha.
Para ajustar o relógio, o relojoeiro não toca mais na mola. Em vez disso, ele usa uma ferramenta proprietária para aparafusar ou desaparafusar as porcas Microstella (geralmente feitas de ouro para garantir peso e não oxidação). Mover as porcas para fora (em direção ao aro) aumenta a inércia, atrasando o relógio; movê-las para dentro diminui a inércia, adiantando-o. Este sistema eliminou quase inteiramente a desregulação acidental por impacto. A introdução deste sistema foi o fator determinante que permitiu à Rolex colocar a inscrição 'Superlative Chronometer Officially Certified' nos seus mostradores, superando os padrões COSC da época. O legado do Microstella perdura até hoje, sendo a base fundamental de todos os calibres Rolex modernos, do 3135 ao atual 3235, provando que a engenharia de 1959 estava décadas à frente de seu tempo.
CURIOSIDADES
A ferramenta necessária para ajustar essas porcas é uma chave específica da Rolex com uma ponta graduada, tornando o ajuste inacessível para amadores sem o equipamento correto.
As porcas Microstella são geralmente feitas de ouro maciço, não por ostentação, mas porque a densidade do ouro permite um ajuste de inércia mais eficiente em um componente minúsculo.
O termo 'Microstella' refere-se especificamente ao formato de estrela das porcas, que facilita o engate da ferramenta de ajuste sem escorregar e danificar o balanço.
A introdução do Calibre 1565 com Microstella coincidiu com o lançamento da referência 1675 do GMT-Master, tornando este modelo o 'banco de provas' público para a nova tecnologia.
Antes de 1959, a Rolex experimentou com parafusos de regulação externos no aro do balanço, mas o sistema interno do 1565 reduziu drasticamente o arrasto aerodinâmico.
Graças a este sistema, os movimentos da série 15xx são frequentemente citados por relojoeiros independentes como os mecanismos mais duráveis e estáveis já produzidos em massa.