RESUMO
O Omega Constellation Referência BA 368.0847 é muito mais do que um instrumento de cronometragem; é um artefato cultural que encapsula perfeitamente a transição opulenta da horologia suíça entre o final da década de 1960 e o início dos anos 1970. Numa época em que a indústria enfrentava a iminente crise do quartzo, a Omega respondeu não com timidez, mas com um design audacioso e uma aposta na manufatura de alta joalheria. Este modelo, executado inteiramente em ouro amarelo 18k maciço, representa o auge da tendência dos braceletes integrados, onde a caixa e a pulseira fluem como uma única escultura contínua de metal precioso. Diferente de seus antecessores 'Pie-Pan' com asas tradicionais, o BA 368.0847 adota a estética 'TV Screen' ou 'Televisor', um formato quadrado com cantos suavizados que se tornou sinônimo de modernidade futurista na época. Posicionado estritamente como um relógio de vestir (dress watch) de ultra-luxo, seu público-alvo original eram dignitários, magnatas da indústria e a elite social que buscava uma afirmação de status no pulso. A importância deste modelo reside na sua representação da última grande era mecânica antes do domínio eletrônico, abrigando o Calibre 1001, um movimento cronômetro desenhado para ser mais plano e de batida mais rápida, simbolizando a tentativa da Omega de refinar a precisão mecânica ao limite físico em embalagens cada vez mais elegantes e integradas.
HISTÓRIA
A linhagem do Omega Constellation é, indiscutivelmente, a espinha dorsal da precisão da manufatura, mas a Referência BA 368.0847 ocupa um capítulo muito específico e visualmente distinto nesta longa história. Lançado no alvorecer da década de 1970, este modelo surgiu num momento de convulsão estética e técnica. Enquanto as décadas de 50 e 60 foram dominadas pelas caixas redondas clássicas e as famosas asas de lira ou 'dog-leg', o início dos anos 70 trouxe o brutalismo e a geometria para o primeiro plano do design de relógios. O BA 368.0847 é um filho direto desta revolução, muitas vezes associada à influência de Gerald Genta, embora este modelo específico seja uma evolução interna da Omega baseada nos princípios de design integrado que Genta ajudou a popularizar com o Constellation 'C-Shape' anterior.
Historicamente, a referência 368.xxxx é significativa porque o prefixo '3' no sistema de codificação da Omega da época denotava um relógio com bracelete de metal integrado, uma ruptura fundamental com os relógios de alça de couro. A caixa quadrada arredondada, apelidada de 'TV Dial', foi uma resposta direta à estética da era espacial e à onipresença da televisão na cultura pop. Não era apenas um relógio; era uma tela de ouro no pulso.
Tecnicamente, o modelo marcou a estreia e a utilização da família de calibres 1000. O Calibre 1001 foi desenvolvido para suceder os lendários calibres da série 500 (como o 561 e 564). O objetivo da Omega era criar um movimento mais fino (para permitir caixas mais elegantes e planas) e com uma frequência mais alta (28.800 vph contra os 19.800 vph anteriores) para garantir maior precisão e estabilidade de marcha. Embora os colecionadores puristas muitas vezes debatam a robustez da série 1000 em comparação com a superengenharia da série 500, o Calibre 1001 representa um marco crucial na engenharia da Omega, introduzindo recursos modernos como a mudança rápida de data instantânea.
Ao longo de sua produção, o BA 368.0847 viu variações sutis nos mostradores, alguns apresentando marcadores de horas mais grossos e outros com texturas de linho ou escovado solar. No entanto, a constante permaneceu sendo a extravagância do ouro maciço. Este relógio não foi desenhado para ser o 'tool watch' como o Speedmaster; foi desenhado para ser a joia da coroa da coleção, um símbolo de sucesso financeiro. O seu legado hoje é o de um precursor: ele pavimentou o caminho para a tendência 'neo-vintage' atual de relógios com pulseira integrada, provando que a forma geométrica pode ser tão atemporal quanto a redonda. Para o colecionador moderno, ele oferece um valor intrínseco (pelo peso do ouro) e um valor histórico como um ícone do design funky e destemido dos anos 70.
CURIOSIDADES
Apelido 'TV Screen': O formato da caixa é amplamente conhecido pelos colecionadores como 'TV Dial' ou 'Televisor', devido à sua semelhança com os tubos de imagem de televisão arredondados da época.
Peso em Ouro: Um exemplar completo com todos os elos pode pesar mais de 120-140 gramas, tornando-o substancialmente pesado no pulso, uma característica valorizada como sinal de qualidade na década de 70.
O Calibre 1001: Este movimento foi o primeiro cronômetro automático 'high-beat' da Omega produzido em massa, operando a 4Hz, o que confere ao ponteiro de segundos um deslizamento mais suave do que os modelos anteriores.
Logo Oculto: Em muitos braceletes originais desta referência, o logotipo da Omega no fecho é aplicado de forma tridimensional e, às vezes, pode apresentar um acabamento contrastante (jateado vs. polido) que é difícil de replicar em restaurações.
Hallmarks Suíços: O fundo da caixa e o fecho devem apresentar a marca de contraste 'Helvetia' (a cabeça feminina de perfil), que era o selo oficial suíço para ouro 18k na época, crucial para autenticação.
Variações Raras: Existem versões extremamente raras deste modelo com mostradores em pedra dura (como Lápis-lazúli ou Malaquita), que comandam prêmios astronômicos em leilões.
Custo Original: No lançamento, o preço deste modelo em ouro maciço rivalizava com o de um automóvel médio, posicionando-o exclusivamente para a alta elite.