RESUMO
O Omega Seamaster 600, carinhosamente e universalmente conhecido como 'PloProf' (uma abreviação do francês 'Plongeur Professionnel'), não é apenas um relógio; é uma declaração de funcionalidade intransigente e uma relíquia da era de ouro da exploração submarina. Lançado comercialmente em 1970, após anos de testes rigorosos com a lendária empresa de mergulho COMEX e o explorador Jacques Cousteau, o PloProf foi a resposta brutalista e superengenheirada da Omega ao problema da saturação de hélio em mergulhos profundos. Diferentemente de seus concorrentes, como a Rolex, que adotaram a válvula de escape de hélio, a Omega optou por uma abordagem de 'fortaleza impenetrável', criando uma caixa monobloco tão hermeticamente selada que o gás hélio simplesmente não poderia entrar. Posicionado no mercado não como uma peça de joalheria, mas como um instrumento de sobrevivência vital para mergulhadores de saturação e profissionais da indústria petrolífera offshore, o PloProf ocupa um lugar singular na horologia. Sua estética polarizadora, definida por linhas angulares, dimensões massivas e uma coroa protegida de forma única, transcendeu seu propósito utilitário para se tornar um ícone de design vanguardista. Hoje, é reverenciado por colecionadores que buscam não apenas raridade, mas a audácia técnica de uma época em que as marcas de relógios estavam dispostas a desafiar os limites da física para conquistar o abismo.
HISTÓRIA
A gênese do Seamaster 600 'PloProf', Ref. 166.077, remonta ao final da década de 1960, um período de corrida armamentista horológica focada na conquista das profundezas oceânicas. Enquanto a exploração de petróleo offshore exigia que mergulhadores operassem em profundidades cada vez maiores através do mergulho de saturação, a Omega iniciou o ambicioso 'Project 600'. O objetivo era claro: superar a Rolex e seu Sea-Dweller. A grande questão técnica da época era a infiltração de hélio durante a descompressão, que podia fazer os cristais dos relógios explodirem. A Rolex resolveu isso deixando o hélio sair através de uma válvula; a Omega, em um ato de desafio de engenharia, decidiu construir um relógio tão robusto que o hélio jamais entraria.
O resultado, lançado em 1970 após quatro anos de desenvolvimento, foi um monstro de aço esculpido em um bloco único (monobloco), eliminando a necessidade de um fundo de caixa removível e, consequentemente, um ponto de falha nas vedações. O design foi puramente ditado pela função. A coroa foi movida para o lado esquerdo (às 9 horas) para evitar que restringisse o movimento do pulso do mergulhador e para protegê-la de impactos, sendo resguardada por uma porca de travamento quadrada inovadora. O mecanismo de luneta (bezel) também foi revolucionário: para girá-la, o usuário precisava pressionar e segurar um botão vermelho de segurança feito de plástico endurecido, garantindo que o tempo de mergulho nunca fosse alterado acidentalmente por esbarrões em rochas ou equipamentos.
Ao longo de sua produção na década de 1970, o modelo viu variações sutis que hoje são cruciais para colecionadores. Os mostradores variaram entre as versões 'Mk1', 'Mk2' e 'Mk3', com diferenças na tipografia do 'Seamaster' e '600', e na profundidade da cor azul. As inserções de luneta de baquelite eram propensas a rachaduras, tornando exemplares intactos extremamente valiosos. O movimento Calibre 1002, embora avançado com sua alta frequência, foi por vezes criticado pela robustez em comparação com os calibres da série 500, mas cumpriu seu papel na manutenção da precisão cronométrica.
O PloProf 166.077 foi descontinuado em 1979, permanecendo adormecido até sua reedição moderna em 2009. No entanto, o modelo original de 1970 permanece o 'graal'. Ele não apenas solidificou a reputação da Omega como uma verdadeira inovadora técnica, mas também influenciou a estética dos relógios de mergulho modernos, provando que um relógio não precisa ser simétrico ou convencional para ser perfeito. Ele é o testemunho de uma era em que a exploração humana ditava o design industrial.
CURIOSIDADES
O ícone de estilo italiano e ex-chefe da Fiat, Gianni Agnelli, era famoso por usar o PloProf 166.077 por cima do punho da camisa social, cimentando o status do relógio como um símbolo de 'sprezzatura' e excentricidade elegante.
No lançamento em 1970, o PloProf custava aproximadamente o dobro do preço de um Rolex Submariner e significativamente mais que um Sea-Dweller, o que limitou suas vendas iniciais a profissionais reais e entusiastas abastados.
O botão vermelho de desbloqueio da luneta é, na verdade, uma peça separada que pode ser substituída, mas sua cor tende a desbotar para um rosa pálido ou laranja com a exposição UV, um detalhe charmoso de envelhecimento que colecionadores adoram.
Durante a Operação Janus II em 1970, mergulhadores da COMEX usaram o PloProf enquanto trabalhavam a 250 metros de profundidade por oito dias consecutivos, validando a eficácia da caixa monobloco contra a entrada de hélio.
O termo 'PloProf' nunca apareceu oficialmente no mostrador do relógio original; foi um apelido derivado dos telex e comunicações internas da Omega ('PLOngeur PROFessionnel') que a comunidade adotou.
Existem protótipos ultra-raros feitos em titânio datados do final dos anos 60, criados durante a fase de testes, que são considerados alguns dos relógios de mergulho mais valiosos do mundo.
A coroa quadrada não gira para dar corda; ela serve apenas para comprimir as vedações. Para ajustar a hora, a porca quadrada deve ser desenroscada para liberar a coroa interna arredondada.